RIO - Um grupo de rap carioca com raízes baianas, que mistura a batida e as rimas típicas do hip-hop com elementos da bossa nova e do forró. Os integrantes da banda 3030 moram na Zona Sul do Rio, mas dois deles nasceram em Arraial d’Ajuda, o badalado distrito de Porto Seguro, na Bahia. O nome do coletivo, aliás, vem do final do número de telefone de uma pizzaria local, acionada com frequência na hora da larica.
- A primeira vez que disse para o meu parceiro LK que queria fazer um grupo de rap, ele ficou pensando em como escapar - lembra Rod, ao risos, um dos fundadores da banda, que sempre viveu entre o Rio e a Bahia. - Na época, não existiam muitas referências do rap carioca nem baiano. Eu ouvia, basicamente, Marcelo D2 e Gabriel O Pensador. Então montamos um estúdio em casa, para produzir as batidas, e resolvermos arriscar.
Hoje, cinco anos depois, o 3030 é um quarteto, formado também pelo cantor baiano Bruno Chelles, que entrou em 2010, e o DJ Rafik, "aquisição" mais recente, deste ano.
- O Bruno já teve até banda de forró. A onda dele é cantar Bossa Nova, acompanhar o violão. Ficamos amarradões com essa mistura. Sempre quisemos mesclar esses ritmos com o rap - explica Rod. - Até a música brega influencia o nosso som.
O rap americano mainstream de Kendrick Lamar e Eminem também faz parte do pacote de referências do 3030, mas o grupo prefere se manter distante do gangsta rap e suas letras sobre mulheres tratadas como objeto, diamantes e carrões. Os versos de “Isso que é som de rap”, parceria com Cacife Clandestino, confrontam a estética pimp: “Nada de jeezy, weezy/ Som brasileiro ainda aqui se vive”.
- A gente não curte essa onda de ostentação. Começamos no rap para falar sobre coisas relevantes. Queremos fazer os jovens refletirem, e não falarem sobre cordão de ouro e carros - sublinha o rapper de 22 anos.
Apesar de algumas músicas falarem sobre mulheres (a romântica “Tudo que ela quer” é um exemplo) e maconha (“Noite em pane”), o papo consciente do 3030 está se afastando cada vez mais da zoeira e do discurso sobre a legalização das drogas.
- Somos a favor da legalização, mas não queremos ser lembrados pelas drogas. Preferimos ficar conhecidos pela parte social do nosso trabalho - afirma Rod, citando músicas como “Encenação” e “O berço”, faixas no primeiro e, até agora, único CD da banda, “Quinta dimensão”, de 2012.
Com mais de 200 mil visualizações no YouTube, o clipe de “Tudo que ela quer”, com participação de Ari, da Cone Crew Diretoria, é um dos sucessos da banda. Os dois grupos se conheceram pelo Orkut e, desde então, o sexteto que lota casas do porte da Fundição Progresso apadrinhou o 3030.
- O Ari sempre dá a maior força. A colaboração dele foi muito importante para chegarmos mais longe - reconhece o rimador, que, porém, vê muitas diferenças entre os dois grupos. - Eles costumam falar sobre curtição, nós somos mais sérios. Mas nos identificamos muito com o estilo de vida dos caras. São moleques da classe média, assim como a gente. Quando eles ganharam espaço, nos sentimos mais à vontade para colocar o nosso rap em um mundo, antes, dominado pelo som que vinha das comunidades.
Preparado para conquistar o Brasil, o 3030 já está em processo de composição do segundo álbum. O primeiro single já sai e março do ano que vem, acompanhado de um clipe.
- Queremos chegar dando um fatality - brinca Rod, adiantando os detalhes: - Estamos fazendo um som totalmente brasileiro, com influência do forró e do reggae. Também teremos participações de fora do meio do rap.