LOS ANGELES — O filme "Rush - No Limite da Emoção", um drama cheio de adrenalina, pode ser um dos filmes mais envolventes já feitos sobre o mundo das corridas de Fórmula 1, mas o roteirista britânico Peter Morgan não poderia ser menos fã do esporte. Morgan, duas vezes indicado ao Oscar de melhor roteiro ("A Rainha", em 2006, e "Frost/Nixon", em 2008), simplesmente queria contar uma história de rivalidade entre um britânico e um austríaco e a batalha entre Niki Lauda e James Hunt pelo campeonato de Fórmula 1 de 1976 encaixou-se perfeitamente em seus planos.
"Rush", do cineasta vencedor do Oscar Ron Howard, está em cartaz no Brasil há duas semanas, mas estreia apenas na próxima sexta-feira nos EUA — resultado da popularidade da F-1 aqui. Os críticos receberam o filme calorosamente e elogiaram o roteiro de Morgan. Manohla Dargis, do New York Times, disse que se trata de uma história de esporte que o roteirista “desvenda até chegar a seu cerne, com clareza e satisfação".
Mas se não fosse por "Fritz", um apelido que incomodava Morgan na infância, o roteiro de "Rush" poderia nunca ter dado a partida. "Fritz" foi a palavra encontrada por colegas de Morgan na escola para implicar com ele pelo fato de seus pais serem imigrantes alemães. Já adulto, ele se viu do outro lado ao se casar com uma austríaca, se mudar para Viena e se tornar alvo de piadas por ser britânico.
"Eu achava que ninguém iria chegar até a mim e dizer 'por favor, poderia escrever uma história sobre um austríaco e um inglês e examinar as diferenças culturais entre os dois?' Isso nunca aconteceria com alguém", afirmou Morgan em uma recente entrevista. "Por isso, pensei: 'Vou escrever isso porque me interessa'."
Morgan, de 50 anos, construiu sua reputação levando histórias verdadeiras para a tela e o palco. Em "A Rainha", examinou a luta da rainha Elizabeth para comandar seus súditos depois da morte da princesa Diana. Já em "Frost/Nixon", ele e Howard recriaram as entrevistas pós-Watergate entre o apresentador de TV britânico David Frost e o ex-presidente dos EUA Richard Nixon. Os dois foram indicados ao Oscar de melhor filme.
Em "Rush", ele quis fazer um drama humano, não um filme de competição esportiva. Desde o começo decidiu que não haveria cenas de corrida porque nunca teriam dinheiro suficiente no orçamento para rodá-las. A história real de Hunt, o belo playboy interpretado por Chris Hemsworth, e o austríaco Lauda, personificado por Daniel Brühl, tem todos os ingredientes para uma rivalidade emocionante: além de suas diferenças físicas, houve também arrogância, insegurança e inveja.
"Eu sabia que não seria apenas sobre quem era o mais rápido e que haveria detalhes que interessariam a pessoas muito além do mundo das corridas", comentou Morgan.
O roteirista não queria ninguém torcendo para Lauda ou Hunt. Ele pretendia apresentar os dois como homens falhos, porém heróicos. No fim, o filme foi financiado de forma independente e as cenas de corrida são sofisticadas.
Hunt morreu prematuramente há duas décadas, mas Morgan buscou a aprovação de Lauda, que concordou com o projeto. Ele deixou claro ao piloto austríaco que ele não adiantaria o roteiro ou faria quaisquer modificações.
"Acho que ele realmente gostou do foco de fazer algo sobre ele e James", comenta o roteirista. "Ele conversou comigo algumas vezes antes de aprovar, confiou em mim, e respeitou o fato de eu ter avidado que ele provavelmente não iria gostar do resultado."
Lauda, de 64 anos, disse a Reuters ter ficado "impressionado" com o filme e se visto em Brühl, inclusive na cena em que ele retorna após o acidente, sem uma orelha e com o rosto cheio de queimaduras. Ele disse que sua aparência ficou tão ruim quanto aparece no filme.
Há uma cena para agradar o público, na qual Hunt bate em um jornalista que pergunta a Lauda como sua esposa conseguirá viver com ele após o acidente. Os socos não aconteceram na vida real, apesar de Hunt ser conhecido pelo temperamento agressivo.
“Eu queria uma forma não-verbal de James mostrar seu afeto por Niki”, explica.
Para Morgan, a inimizada entre Hunt e Lauda era uma forma de amor, pois ninguém se importa em ter uma rivalidade com alguém que não respeita.