RIO - Em seu terceiro livro, “Feérica”, que será lançado na Bienal do Livro do Rio neste sábado, Carolina Munhóz mergulha em duas de suas grandes paixões: fadas e reality shows.
Os seres mágicos já foram tema de suas duas obras anteriores, “A fada” e “O inverno das fadas”, e Carolina, de 24 anos, costuma dizer que não foi ela que escolheu a paixão:
- Foram elas que me escolheram. Um dia, tive um sonho com uma fada que me contou a história do meu primeiro livro - lembra a escritora nascida em São José do Rio Preto e radicada no Rio. - Adoro pesquisar lendas sobre esses seres, porque eles são puros, mas têm personalidade forte, como a Sininho, que todo mundo conhece. Elas me ajudaram a superar meus problemas através da escrita, e pode ser que outras pessoas se identifiquem com esses mitos também.
Ao falar sobre problemas, a jovem autora se refere, principalmente, ao bullying que sofreu na adolescência por ser fã de cultura nerd e mais introvertida. De uma certa forma, a história de “Feérica” (Casa da Palavra) se parece bastante com a de Carolina. O livro acompanha a trajetória da fada Violet, que, ignorada pelos outros seres de sua dimensão, Ablach, decide partir para o mundo dos humanos, em busca de se tornar uma estrela de Hollywood. A menina de cabelos roxos inscreve-se, então, em um reality show musical, como “American Idol” e “The X Factor”. A partir daí, ela entra em uma rotina de festas, encontros com jovens milionários e campanhas publicitárias.
- A Violet, como eu, sofria bullying na dimensão dela, por ser diferente do padrão e ter o cabelo violeta. Além disso, ela é obcecada por humanos e adora revistas de fofocas e reality shows, igualzinha a mim - ri Carolina.
A conexão com a personagem é ainda maior: a escritora também participou de um programa de calouros quando tinha 18 anos. Apesar de não ter a pretensão de ser cantora, a paulista se increveu no “Ídolos” e chegou a passar por diversas fases.
- Como gosto muito desses programas de talentos, e queria saber como era a sensação de participar de um. Foi super divertido. Conheci muita gente bacana e me emocionei de verdade. No fim das contas, recebi um “não” porque estava muito crua. Saí da audiência arrasada, e até demorei para lembrar que estava fazendo aquilo pela experiência. A gente se envolve de verdade - relata a moça.
Casada há quase três anos com o também escritor Raphael Draccon, criador da série de sucesso “Dragões de Éter”, Carolina é a única mulher em meio ao “Clube do Bolinha” da literatura fantástica brasileira - que inclui os best-sellers Eduardo Spohr e André Vianco. A loura diz que não se incomoda.
- O engraçado é que o mercado de fantasia no exterior é dominado por mulheres, e aqui, só tem homens - observa a escritora, única voz feminina do podcast “Rapaduracast”. - Como eu sofria bullying das meninas no colégio, sempre fiz amizade com os meninos. Estudei informática e trabalhei na IBM, onde havia muitos homens. Me acostumei a falar a língua deles.
Mas se engana quem pensa que a maioria do público de Carolina é formado por mulheres. Segundo a autora, 50% dele é masculino.
- Os leitores gays me abraçaram, e eu adorei. Não escondo nem no título nem na capa que os livros são voltados para o público feminino, mas acho que os homossexuais se identificaram, porque não há preconceito nas histórias.
Em “Feérica”, por exemplo, uma das personagens acaba namorando um rapaz gay. Em “O inverno das fadas”, são duas meninas que namoram.
- Por que não falar sobre gays nos livros se eles fazem parte das nossas vidas? Se não conversarmos sobre isso com a juventude, ela crescerá sem referências - analisa Carolina. - Um dos momentos mais bonitos da minha carreira aconteceu quando uma menina me disse que tinha se sentido aceita ao ler “O inverno das fadas”, e depois contou que a mãe tinha passado a entendê-la melhor após a leitura.
Carolina Munhóz estará neste sábado no espaço Acampamento, onde conversará com os leitores sobre o tema “Histórias de fada para quem vive na selva de pedra”, às 15h. No mesmo dia, às 16h, ela autografará o novo livro no estande da editora Casa da Palavra. O evento rola até o dia 8 de setembro, no Riocentro. Entrada: R$ 14 (estudantes pagam meia).