VENEZA — Há um componente brasileiro na equação financeira que resultou no filme “Night moves”, um dos títulos mais aguardados da competição da 70º Festival de Veneza, que ganhará sessão de gala neste sábado na mostra italiana. É a produtora paulistana RT Features, companhia por trás tanto de títulos artesanais brasileiros, como “Heleno” (2011), de José Henrique Fonseca, e “O abismo prateado” (2011), de Karim Aïnouz, quanto de sucessos recentes do cinema independente americano, como “Frances Ha”, de Noah Baumbach, em cartaz no Rio. Dirigido por Kelly Reichardt (de “Wendy and Lucy”), o filme é centrado nas ações de três jovens ecoterroristas, interpretados por Dakota Fanning, Jesse Eisenberg e Peter Sarsgaard, que planejam explodir uma represa.
— O projeto nos foi apresentado em 2011, com um elenco diferente do atual. Voltamos a nos falar em agosto de 2012, já com a nova configuração da equipe e decidimos entrar no filme. Uma coincidência interessante foi o fato de Kelly ser amiga do Karim, que me falou muito bem dela, o que foi decisivo para que apostássemos na ideia deles — conta Rodrigo Teixeira, da RT Features, falando com entusiasmo de “Night moves”, que, em função de sua composição técnica, artística e financeira, é considerada uma produção americana. — Ele é um filme brasileiro na exata medida da participação da nossa empresa, e nada além disso. Financiamos parte do orçamento e participamos das discussões artísticas com os produtores e a diretora. Foi uma troca muito enriquecedora.
Não bastasse o tema explosivo, “Night moves” chegou a ganhar as manchetes das publicações que cobrem o mercado cinematográfico antes mesmo de ficar pronto, sob suspeita de plágio. Ano passado, o produtor Edward Pressman (de “Psicopata americano” e “Wall Street: O dinheiro nunca dorme”) entrou com um processo contra a produção acusando-a de copiar elementos do romance “The Monkey Wrench Gang”, que ele estaria adaptando para o cinema, com os diretores Henry Joost e Ariel Schulman (ambos de “Catfish”). O livro, escrito por Edward Abbey (1927-1989) fala sobre quatro ativistas políticos, nos anos 1970. Um deles é um especialista em bombas, e um de seus objetivos e explodir uma represa.
— Não há 1% de verdade nas acusações de Pressman. Tanto é que ele acabou retirando o processo, e o assunto morreu — afirma Teixeira.
A exibição em Veneza é uma conquista valiosa para a trajetória internacional do longa-metragem, que passará ainda pelo Festival de Toronto, na semana que vem. Seus sócios brasileiros contam com a boa receptividade no circuito de festivais de grande porte para que “Night moves” chegue forte à temporada de prêmios americanos.
— Esperamos que isso aconteça, sim. A importância dos festivais de Veneza e de Toronto é até difícil de quantificar, mas é uma questão de visibilidade, basicamente. Eles funcionam como vitrines, mesmo. Claro que tudo depende de como a produção vai ser recebida nesses espaços. Espero que haja um leilão pelos direitos do filme, depois que ele for exibido — anima-se Teixeira, que vê na coprodução um caminho inevitável para o cinema brasileiro. — Claro que produzindo aquilo de que gostamos! Fizemos “Frances Há”, “Night moves” e o novo do Noah Baumbach, ainda sem título e inédito. E vamos produzir o próximo filme do James Gray e do Gaspar Noé.