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Pedro Lourenço comenta aprovação da Lei Rouanet para desfile: ‘Essa ajuda não é para mim’

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RIO - Pedro Lourenço, um dos três estilistas brasileiros contemplados pelo MinC com a Lei Rouanet, falou ao GLOBO sobre a polêmica que a autorização recebida para captar R$ 2,8 milhões para realizar dois desfiles em Paris causou (saiba mais). O valor, semelhante ao aprovado para Alexandre Herchcovitch e Ronaldo Fraga e que poderá ser captado via renúncia fiscal, é bem maior que o normalmente gasto em produções do tipo. Segundo especialistas, uma marca gasta em torno de US$ 200 mil para desfilar em Nova York, uma das semanas de moda mais concorridas do mundo.

Tanto em Nova York quando em Paris, as apresentações costumam ser mais simples, sem cenários, com modelos pouco conhecidas na passarela. Apenas grandes grifes, como Chanel, Diane von Furstenberg e Tommy Hilfiger, fazem de seus desfiles grandes produções. A visibilidade gerada por esses eventos, porém, costuma ser enorme. Os desfiles de Pedro Lourenço em Paris já tiveram na plateia nomes como Carine Roitfeld (ex-editora da "Vogue" francesa), Anna Wintour ("Vogue" americana) e Suzy Menkes (do "Herald Tribune") na plateia. Filho dos estilistas Glória Coelho e Reinaldo Lourenço, Pedro tem sido o único brasileiro a apresentar suas coleções em Paris.

Outras importantes marcas brasileiras como Osklen e Isabela Capeto foram sondadas para o projeto do Ministério da Cultura. Procurada, Isabela não quis se pronunciar. Em entrevista ao GLOBO, Pedro, eleito no ano passado pela "Forbes" como um dos jovens mais influentes da moda, comenta a polêmica, nega ter sido beneficiado pela proximidade de sua família com a ministra e diz desejar que outros se beneficiem também.

Como você conseguiu convencer a ministra?

Eu não a convenci a fazer nada. No ano passado, ela convidou estilistas para se reunirem em São Paulo porque queria entender as necessidades do setor. Fomos eu, Oskar (Metsavaht), Alexandre (Herchcovitch)... e lá falamos sobre como o importado entrou com tudo. Ela quis saber como ajudar. Falamos sobre a Lei Rouanet, e ela disse que era super viável.

Mas sua família é bem próxima à ministra, não?

Eu fui apresentado à Marta aos 12 anos, mas não tenho relação com ela. Não consegui nada assim. Meu pai a conhece, mas não tem interesse nesse meu projeto em Paris. Meu portfólio é forte, e essa ajuda não é para mim. Espero que ela se torne comum a todos os estilistas e marcas.

Quem deve ser apoiado?

Defendo a meritocracia. Eu já fiz oito desfiles em Paris por conta própria. Olha o tamanho do investimento que eu tive que fazer em mim mesmo para conseguir o apoio para os dois desfiles que farei agora com a ajuda da Lei Rouanet. Comecei aos 23 anos, sem apoio nenhum.

Mas não seria você o principal beneficiário deste projeto?

O discurso do soft power da ministra faz sentido. Esse projeto não é para meu ego. Quero que o país tenha estilistas criativos. Não é normal que depois do Alexandre só eu tenha tido expressão internacional. Há um monte de jovens da área que precisam de incentivo.

Como está lidando com a polêmica em torno do uso da Rounet para a moda?

Estou tranquilo e acho que a medida faz todo o sentido. Quando o (Christian) Lacroix foi à falência, o governo francês interviu. A moda é uma indústria, ela gera empregos.

Você vai vender as peças depois dos desfiles de Paris?

Nada fica comigo. Vou doar para serem arquivadas em instituições brasileiras. São peças feitas em tecidos caros, peças de laboratório. O que vendo depois é uma coleção com a mesma inspiração. Peças adaptadas.

Os desfiles são vitrines?

Eu os encaro como laboratório. Não são comerciais. Neles a gente debate os desejos da sociedade, o que pode ser feito em termos de desenvolvimento tecnológico e o que pode ser mudado.

Esta verba de R$ 2,8 milhões não é muito alta? Em média, no exterior, um desfile custa US$ 200 mil (R$ 488 mil).

Esse valor ainda precisa ser captado, mas nem tudo será gasto com desfiles. Vou dar palestras em universidades.

O que vai mostrar?

De 28 a 32 looks em cada desfile. Todos ligados ao maior branding do Brasil. Vou falar da relação entre corpo e nudez. Mostrar que mulher pode estar nua sem ser vulgar.


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