RIO - Namorar um skatista com a metade de sua idade pode facilmente acabar em alguns tombos sobre quatro rodas. Dificilmente, renderia uma exposição. Mas com Leda Catunda aconteceram os dois. A artista paulistana, hoje com 52 anos, namorou um jovem desportista, caiu do skate, mas em contrapartida ergueu um trabalho consistente. “Pinturas recentes”, que ela inaugura neste sábado, às 15h, no Museu de Arte Moderna do Rio, traz o produto de seu deslumbramento visual com, inicialmente, as estampas das camisetas usadas pela tribo dos amigos do namorado. Daí em diante, ampliou sua produção, feita a partir de 2009, para os símbolos de outros esportes, como o futebol e o motociclismo.
A apropriação de imagens das ruas é uma constante no trabalho da artista, um dos ícones da chamada Geração 80. Nas 15 pinturas-objeto que ela exibe no MAM, com curadoria de Jacopo Crivelli Visconti, símbolos dos clubes podem aparecer explicitamente em obras como “Santos”, de 2012, a maior da mostra, com 3,4 por 4 metros, e que traz imagens com alusões a Pelé e a Neymar, a faixa de tricampeão da Libertadores, o escudo do time recortado de um cobertor de pelúcia comprado na Rua 25 de Março, templo do comércio popular da capital paulista, ou ainda uma cortina de plástico com peixinhos, referência ao apelido do time. Outras fazem uma brincadeira com a abstração geométrica. Em “O Flu e os outros”, a artista recorta círculos de diferentes tamanhos, que vai compondo em conjuntos, cada um com as cores semelhantes de vários times locais e do exterior, pintadas em tinta acrílica sobre tecido, com enchimento de espuma para ganharem volume — o Fluminense, com seu vinho único, reina sozinho com suas bolinhas. O mesmo fez em “Skate II” (2010) em que pintou sobre as camisetas usadas por skatistas — “deixei a turma pelada”, diverte-se.
— É um trabalho sobre excesso, sobre o acúmulo — diz Leda. — Acho um pouco melancólico que a gente precise ter a nossa identidade associada a alguma coisa através do consumo. Sou do tempo em que o capital era o inimigo.
Alguns trabalhos, como “Ronaldo” (2011) e as telas da série “Campeão”, são compostos a partir de um aramado de lona dupla. Outros, como “Santa Cruz” (2010) são um mosaico de pequenas telas. E há ainda “Cadu” (2010), conjunto de telas em forma de gotas.
— É um trabalho que tem um impacto visual, sem dúvida — diz o curador Jacopo Crivelli Visconti. — Mas esta é a parte mais fácil dele. — A aproximação com o esporte é uma maneira de falar de um monte de outras coisas, como a dualidade entre o elitista e o popular. Ela dá visualidade ao popular que aparentemente não teria luz no contexto mais refinado da arte contemporânea.
“Pinturas recentes” esteve no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, de abril a julho, onde foi vista por 122 mil pessoas. A artista está em negociações para levá-la, depois do MAM, ao Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.