RIO - Único dos convidados internacionais do 21º Anima Mundi a ter no currículo um Oscar e uma franquia bilionária (“A Era do Gelo”), o diretor americano Chris Wedge encerra neste sábado, às 21h, na Fundição Progresso, o ciclo de encontros com cineastas estrangeiros do festival, que termina amanhã. Ex-professor do animador carioca Carlos Saldanha e atual sócio dele no Blue Sky Studios, o realizador nova-iorquino de 56 anos é uma lenda na indústria cinematográfica pela maneira como depurou as ferramentas da computação gráfica a serviço da criação de efeitos digitais. Ocupado hoje com seu primeiro projeto de longa-metragem realista, com atores, Wedge emplacou este ano o blockbuster “Reino escondido” (“Epic”), cuja bilheteria beirou US$ 245 milhões.
— Até dirigir o primeiro “A Era do Gelo” com Carlos, há 11 anos, eu já tinha presenciado um longo pedaço da história da computação gráfica no cinema animado, pois comecei a trabalhar com ela no início da década de 1980 — diz Wedge, que integrou a equipe da Disney no clássico “Tron — Uma odisseia eletrônica” (1982), filme pioneiro em usar a linguagem dos videogames.
Codiretor com Saldanha também do sucesso “Robôs” (2005), Wedge animou os insetos saltitantes de “Joe e as baratas” (1996) e integrou o time de criação do francês Jean-Pierre Jeunet em “Alien — A ressurreição” (1997).
— Peguei o comecinho da era em que ferramentas digitais passaram a ser usadas em animações. Desde o início, eu percebi que, independentemente do volume de dinheiro que você tenha para investir na tecnologia de um longa, o filme só funcionará se você elaborar bem seus personagens e sua dramaturgia — diz Wedge, que não revela o título de seu próximo filme, cujos heróis serão de carne e osso. — Só posso adiantar que será uma aventura.
Em 1999, ano em que a Blue Sky conquistou fama ao criar uma sequência de pinguins virtuais para o cult “Clube da luta”, de David Fincher, Wedge ganhou a estatueta de melhor curta-metragem de animação por “Bunny”. Com uma trama centrada em troca de identidades, o filme será exibido e comentado hoje durante o encontro com o diretor. Volta a ser exibido no domingo, às 18h, também na Fundição Progresso.
— “Bunny” talvez seja o meu trabalho mais descompromissado, mais anárquico. Em geral, eu trato meus temas com muita seriedade. No fundo, todas as histórias que eu conto abordam os sentimentos que levam as pessoas a se unirem, mesmo quando exploro enredos de fantasia — diz o diretor, cujo filme “Reino escondido” é tratado pela imprensa dos EUA como potencial candidato ao Oscar de longa animado.
No período em que Blue Sky lançou as partes 3 e 4 de “A Era do Gelo” (em 2009 e 2012) e “Rio” (2011), Wedge dedicou-se integralmente a “Reino escondido”, desenvolvendo um universo de verve ecológica sobre guerreiros florestais. Trechos do longa serão exibidos no debate.
— A indústria do cinema defende a ideia de que uma animação deve sempre seguir um tom cômico, pois só se deve gastar dinheiro com um drama se ele for feito com pessoas reais. Para o mercado, ninguém acreditaria numa história dramática representada por heróis desenhados. Mas eu venho me empenhando em mudar isso. Por isso, procurei dar a “Reino escondido” o máximo de dramaticidade e dor — diz o diretor.
Orgulhoso de seu ex-aluno mais famoso da School of Visual Arts em Nova York, ele elogia o sucesso de Saldanha, que hoje roda um segmento para o longa “Rio, eu te amo”.
— Carlos nasceu talentoso. Quando ele estudava comigo, eu custei a convencê-lo a entrar na Blue Sky, pois ele queria ficar em Nova York (o estúdio é em Connecticut). Mas quando entrou, contribuiu muito para que a “A Era do Gelo” nascesse, antes de assumir a direção das partes dois e três da série — lembra Wedge. — Carlos é um grande parceiro.