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Juan José Campanella usa jogo de totó para falar de amor em sua primeira animação em 3D

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BUENOS AIRES — O argentino Juan José Campanella está virando uma espécie de Rei Midas do cinema nacional: tudo o que toca vira ouro. Depois de mais de cinco anos de trabalho, Campanella acaba de estrear “Metegol”, seu primeiro filme de animação em 3D (a tradução literal para o português seria “Totó”, e o título provisório no Brasil é “Um time show de bola”). Nos primeiros dez dias de exibição, mais de um milhão de pessoas, um número expressivo no país vizinho, se encantou com a nova criação do diretor de “O segredo de seus olhos”, vencedor do Oscar ao melhor filme estrangeiro em 2010. Foi o grande sucesso de bilheteria das férias de inverno na Argentina, superando tanques americanos como “Meu malvado favorito 2”, de Pierre Coffin e Chris Renaud, e “Universidade Monstros”, de Dan Scanlon. Detalhe: a produção de Campanella custou em torno de US$ 20 milhões, bem menos do que seus concorrentes.

Já mergulhado na direção e na estreia de sua primeira peça de teatro, “Parque Lezama”, Campanella disse sentir-se “aliviado” pelo bom desempenho de “Metegol”, que deve chegar aos cinemas brasileiros até o fim do ano.

— No cinema nos preparamos sempre para o pior, e quando o pior não acontece, mais do que felicidade, sentimos alívio — diz o diretor em entrevista exclusiva ao GLOBO.

Campanella ficou surpreso com a reação do público argentino, principalmente das crianças. O filme conquistou todas as gerações, meninos e meninas, até mesmo os pequeninos de 5 ou 6 anos de idade.

— Tínhamos medo porque estávamos cercados: na mesma semana estrearam grandes produções americanas, e o público argentino sempre desconfia do cinema nacional — comentou o diretor, que espera repetir o sucesso em outros países, para recuperar o maior investimento já realizado pelo cinema do país.

“Metegol” é uma coprodução com a Espanha na qual trabalharam técnicos de vários países, entre eles o brasileiro Michel Alencar, craque em cinema 3D. O principal objetivo de Campanella foi transmitir valores como a amizade, o trabalho em equipe e a superação dos limites pessoais, além de criar uma bela e clássica história de amor. O diretor conseguiu levar ao cinema o clima que se vive no campo de futebol e acredita que essa sensação é a que mais cativou os espectadores.

— É maravilhoso ver como as crianças descobrem as emoções, estou maravilhado. Não gosto de futebol, nem sou torcedor de nenhum time. O que mais me interessava eram os valores humanos — explica Campanella.

O filme é inspirado em uma história do escritor e cartunista argentino Roberto Fontanarrosa, morto em 2007. Em 1996, Gastón Gorali, sócio do diretor, comprou os direitos do conto “Memórias de um wing derecho”, e naquele momento, dizem ambos, nasceu o projeto de “Metegol”. Foram muitos anos de trabalho e, para Campanella, uma das maiores dificuldades do processo foi o tempo de produção de um filme de animação.

— Sou um diretor de live action, e para mim fazer um filme de desenho animado é totalmente diferente, você não vê cenas inteiras antes de dois anos de trabalho! Agora já me acostumei, mas esse foi um dos maiores obstáculos — lembra o cineasta.

O conto de Fontanarrosa é sobre um jogador de totó que tem alma, desejos e paixões. Amadeo, o protagonista da história, vive numa pequena cidade do interior da Argentina e trabalha num bar, onde joga totó melhor do que ninguém. Está apaixonado por Laura, que ignora seu amor. Amadeo se envolve numa disputa com Grosso, o vilão de “Metegol”, e durante a partida descobre que os pequenos jogadores do totó têm vida própria. Por meio da aventura de Amadeo, o filme fala sobre os valores considerados tão importantes por Campanella. Para alguns críticos, o diretor buscou referências nos antigos jogadores, que pouco teriam a ver com as grandes estrelas que brilham atualmente nos campeonatos internacionais. O cineasta, porém, nega essa relação.

— Não pensei em nenhum jogador em especial, Amadeo não está inspirado em ninguém. Meu desejo foi resgatar valores — insiste.

Campanella trabalhou com mais de 300 pessoas no projeto e admite que jamais imaginou gastar US$ 20 milhões num filme.

— Se tivesse sabido que custaria isso, provavelmente não teria feito nada. Mas, mesmo assim, estamos longe dos mais de US$ 100 milhões das produções da Disney ou da Pixar.

A música de “Metegol” é do compositor Emilio Kauderer, um antigo colaborador do cineasta argentino, e a animação foi supervisionada por Sergio Pablos, que também trabalhou em “Rio”, de Carlos Saldanha, e “Meu malvado favorito”. Na Argentina, a produção foi de Jorge Estrada Mora e Plural-Jempsa, e na Espanha, da Antena 3 Films. A produção executiva ficou nas mãos da 100 Bares Producciones, de Campanella, e da Catmandu Entertaiment, de Gastón Gorali — que assina o roteiro junto com Campanella e Ernesto Sacheri, também roteirista de “O segredo de seus olhos”.

Depois de bater um novo recorde no cinema de seu país, Campanella não está pensando em novos projetos. Quando passar o furacão da estreia de sua primeira peça de teatro, que terá como protagonista o ator Luis Brandoni (de filmes argentinos como “Hotel dos amores proibidos”, de 1967, e “Não é você, sou eu”, de 2004), o diretor tem apenas uma ideia na cabeça: “descansar”.


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