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Fundador do Teatro Oficina, Zé Celso rebate críticas de Gerald Thomas no Facebook

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RIO — Na manhã desta terça-feira, o diretor teatral e dramaturgo Gerald Thomas publicou em seu perfil no Facebook comentários críticos sobre o diretor Zé Celso Martinez Corrêa. Em sua página, Thomas disse que o fundador do Teatro Oficina "conseguiu milhões da Petrobras para editar seus DVDs" e que o encenador "não precisa tirar $$$ de grupos novos" (sic), referindo-se às verbas públicas destinadas à produção teatral que são garantidas pela Lei do Fomento da cidade de São Paulo. Para o primeiro semestre de 2013, o Programa Municipal de Fomento ao Teatro de São Paulo irá destinar R$ 5,4 milhões às artes cênicas.

"Chama 'fomento' justamente para incentivar companhias novas, grupos novos, ideias novas de pessoas que não têm e não sabem entrar nesse complexo sistema de protecionismo! Vamos dar uma chance a eles e ver sangue novo!", escreveu Thomas.

Ele ressaltou que escrevia em resposta ao comentário do diretor do grupo Os Satyros, Rodolfo García Vazquez, que se indignou com o fato de o Teatro Oficina não ter sido contemplado com as verbas da Lei do Fomento:

"Estou pensando no Zé Celso, que perdeu o Fomento! (José Celso, monumento da cultura brasileira, perdeu o Fomento!?!?!?! Como assim?!?!?! Vergonha alheia!!!)", escreveu Vazquez.

Após ler os comentários publicados por Thomas, Zé Celso rebateu as acusações:

— Gerald não tem noção do que está falando. É uma injustiça absurda receber uma porrada dessas como se eu fosse um corrupto — Zé Celso. — Trabalhei junto com outros artistas há dez anos para a implementação da Lei do Fomento, mas só me beneficiei dela uma única vez. Eu tenho 52 anos de Oficina, sou um homem que não tem propriedades, seguro saúde, uso táxi porque sou cardíaco. Vivo modestamente e apenas com o dinheiro da anistia. Hoje sou um homem que vive às custas do fato de ter sido torturado. É esse dinheiro, os R$ 9 mil por mês da anistia, que paga as minhas contas, os meus remédios para o coração. E que ainda uso para tocar uma coisa ou outra no Oficina.

Para o diretor do Oficina, Thomas "está completamente equivocado". Ele afirma que o Teatro Oficina se beneficiou uma única vez de verbas (R$ 300 mil) públicas destinadas pela Lei do Fomento, no ano de 2002. O montante foi usado, à época, para a criação da primeira parte da trilogia "Os sertões", inspirada na obra homônima de Euclides da Cunha. Hoje em dia, as atividades do Teatro Oficina são patrocinadas pela Petrobras, que destina anualmente R$ 1 milhão ao grupo.

— Tentei diversas outras vezes o Fomento, mas nunca fui contemplado. Tentei porque temos custos altíssimos. O dinheiro da Petrobras paga um terço das nossas despesas. Somos 60 atores, uma sede com funcionários.

Em um comentário posterior, mas na sequência da mesma publicação, Thomas escreve: "Isso é um escândalo. Essas pessoas têm décadas de teatro. Ainda não são autossuficientes?”

Zé Celso diz que não, e conta, por exemplo, que teve de encerrar prematuramente a temporada da última montagem da companhia — a peça "Akordes", que estreou no Teatro Oficina em 2012 — por falta de recursos.

— Não pudemos sair do nosso espaço, apresentar a peça em outras cidades, e a temporada acabou porque não tínhamos dinheiro para pagar os atores — diz o diretor. — As pessoas têm as suas vidas e suas contas, não puderam continuar, foram embora, eu entendo. Mas aí vem o Gerald e joga em cima de mim uma acusação dessas? Ele deveria estar do meu lado, se indignar e cobrar das empresas e do estado o fato de um grupo como o Oficina ainda hoje não ter garantia de poder trabalhar permanentemente. Deveria estar lutando para que os investimentos públicos e privados em teatro aumentassem, que essa Lei do Fomento crescesse. Mas não. Ele não faz ideia dos custos que temos para mante uma sede. Nó somos heróis, cara, manter uma companhia por 52 anos no Brasil não é para qualquer um. Deveríamos estar numa situação melhor, mas temos dificuldade de ganhar patrocínios, porque nossos espetáculos são libertários. Tocam em questões políticas, sexuais, não seguem a cartilha dominante. E disso nós não iremos abdicar.

Em julho, o Oficina recebe uma nova leva do patrocínio da Petrobras, que servirá à produção do novo espetáculo do grupo: a peça "Cacilda!!! Glória no TBC", a terceira parte de uma tetralogia dedicada à atriz Cacilda Becker.

— Estamos trabalhando há cinco meses sem dinheiro. Não fazemos teatro por conta de edital. Aqui a gente não para de trabalhar, simplesmente porque eu vivo de teatro, não só economicamente, é uma questão de vitalidade. A minha vida depende do meu trabalho, do teatro.


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