RIO - Zezé Polessa está pronta para qualquer que seja o desfecho preparado por Glória Perez para a Berna, de “Salve Jorge”. Mas, mesmo sem querer, às vezes defende as intenções da complicada personagem que, apesar de não ser uma vilã, foi cúmplice no sequestro de sua filha adotiva Aisha (Dani Moreno). Depois de um início morno, ela viu sua trama crescer na reta final do folhetim das 21h, que chega ao fim dia 17.
— No início ia trabalhando um pouco com a contenção de expectativas porque eram muitas tramas e personagens. Mas a história foi se abrindo. Berna é maravilhosa por sua complexidade. É uma mulher bacana, de caráter, que ama a filha. Não tem a maldade projetada de um vilão. Mas se envolveu num crime — observa a atriz.
Zezé explica que os espectadores saberão exatamente como aconteceu o sequestro de Aisha: a sequência foi gravada por ela e Totia Meirelles em formato de flashback, e deve ir ao ar nos últimos capítulos. Apesar de não saber como termina a trama para a família, ela aposta num final feliz na Turquia, ao lado da filha:
— Aisha não faz parte daquele mundo (do Complexo do Alemão). Ela teria praticamente que virar outra pessoa para viver com a família biológica. Agora, saber que está acontecendo algo ilegal, fechar os olhos e não denunciar é crime. Participar, então... Não sei se Berna será punida.
No ano em que completa 40 anos de carreira, Zezé não terá muito descanso. Assim que acabar “Salve Jorge”, começa a ensaiar uma montagem teatral de “Quem tem medo de Virginia Woolf?”, e também já acertou sua participação em “Joia rara”, próxima novela das 18h, de Thelma Guedes e Duca Rachid. Um final feliz para um ano que não começou muito bem: em janeiro, o nome da atriz foi alvo de ataques quando a morte de um motorista que prestava serviços para a TV Globo foi relacionada a uma discussão tida com ela horas antes. O Ministério Público chegou a abrir inquérito para investigar o caso, mas o processo foi arquivado.
— Eu gosto muito de esclarecer a história. O motorista me deixou na gravação às 9h30m, e não o vi mais. À tarde, ele passou mal, e morreu no início da noite. Disseram que eu o destratei e humilhei, o que não fiz. É claro que ele se aborreceu, nós pegamos o caminho errado e nos atrasamos duas horas. Eu me aborreci, a atriz que estava me esperando também. Mas ele estava doente, e por isso morreu. Não faz sentido relacionar os fatos — diz.
O episódio deu mais consciência à atriz, ela afirma, sobre a fama e a relação entre artistas e mídia, hoje muito diferente de quando começou, há 40 anos:
— Levei um susto, sofri muito e fiquei em estado de choque. Sou uma pessoa diferente depois disso, mais consciente dessa indústria da fama. Esse fenômeno de inventar mentiras ou expôr a vida íntima das pessoas é algo que beira a doença psicossocial. É muito grave. Acho que fiquei mais resguardada. Hoje em dia não paro mais num lugar qualquer para tomar uma cerveja. Você não sabe com que olhos está sendo vista. Mas também não quero ficar paranoica.
Paranoia não parece mesmo ser característica da atriz. Completando 60 anos de idade este ano, ela vai na contramão das mulheres que tentam a todo custo parecer mais jovens. Diz que a nova idade não traz qualquer tipo de apreensão.
— Gosto de estar bem, ágil. Ter a expressão e o movimento do corpo sem estar com uma dor aqui e outra ali. Por isso me exercito. Mas plástica não faço. É muita anestesia, muita droga, muito antibiótico depois. E, vamos falar a verdade? Ninguém fica mais jovem. Tem umas pessoas que ficam até mais velhas. Você vê ela lá, toda esticada, e pensa: “Quantos anos ela deve ter? Uns 100!” — brinca.
Adepta da alimentação macrobiótica, da ioga, das corridas e da análise, ela não vê problema em envelhecer:
— O importante é a cabeça. E você vai acompanhando, não fica velha de uma hora para a outra. Não acorda, vai andando para o banheiro e sua bunda cai no chão do meio do caminho. Não é assim. Claro, não pode é ficar se comparando com uma menina de 20 anos. Isso não faz nenhum sentido para mim. E acho que não devia fazer para ninguém.