RIO - George Jones, o cantor de country mais importante dos últimos 50 anos, morreu na sexta-feira, em um hospital em Nashville, aos 81 anos. Ele foi internado no dia 18, com febre e problemas com a pressão sanguínea, informou o site do Webster & Associates, sua assessoria de imprensa, logo da morte. Apelidado de Possum (Gambá) por causa de seus olhos juntos e seu nariz pontudo, e depois No-Show Jones por causa dos vários shows que deixou de fazer por causa de suas exageros com bebidas e drogas, George foi uma lenda da música country. Seu canto, que era largamente respeitado e imitado, encontrou vulnerabilidade e dúvida por trás da animada levada do honky-tonk. Com sua voz de barítono que era tão elástica quanto uma corda de violão, ele trouxe suspense para cada sílaba, fundindo os desenhos deslizantes do blues aos ornamentos precisos e trêmulos do canto apalache.
Em suas canções mais memoráveis, todos os prazeres de uma noite de sábado passada em casa não poderiam libertá-lo de sua dor particular. Suas canções acaleradas tinham traços subterrâneos de solidão. E as baladas, que se tornaram sua especialidade, estavam impregnadas com uma desolação estóica. “Quando você está no palco ou no estúdio, você se põe nessas histórias”, disse ele certa vez. Quando Jones cantava sobre desilusões amorosas ou bebedeiras, os fãs ouviam ecos de uma vida em que sucesso e excesso brigaram durante décadas. Ele comprou e vendeu dúzias de casas e centenas de carros, ganhou milhões de dólares e perdeu boa parte deles por causa das drogas, do mau empresariamento e dos acordos de divórcio. Ao longo disso tudo, ele continuou excursionando, gravando e cantando canções chorosas que seguiram soando verdadeiras.
Dos anos 1950 até o século seguinte, George Jones esteve presente nas paradas de música country e no começo dos anos 1960 foi saudado pelos ouvintes e músicos como o maior cantor vivo do gênero. Ele nunca foi um artista de crossover: enquanto os fãs de country o idolatravam, as rádios de pop e de rock o ignoraram. Mas, nos anos 1980, ele foi reconhecido como um patrimônio musical. Uma legião de cantores country, de Garth Brooks e Randy Travis a Toby Keith e Tim McGraw, aprenderam com Jones, que nunca se preocupou em vestir um chapéu de cowboy. “Nem todo mundo precisa soar como George Jones”, disse uma vez o cantor country Alan Jackson, em uma entrevista. “Mas é o que eu sempre fiz e vou seguir fazendo — ou tentando.”
George Glenn Jones nasceu em Saratoga, uma cidade petrolífera do Texas, no dia 12 de setembro de 1931. Seu pai, George Washington, que era motorista de caminhão e encanador, deu o primeiro violão ao filho quando ele tinha nove anos. Quando adolescente, ele cantava nas ruas, em serviços religiosos e nos bares. Motoristas de ônibus o deixavam entrar de graça se ele cantasse. Logo, Jones estava participando de programas de rádio, e forjando um estilo a partir de cantores como Lefty Frizzel, Roy Acuff e Hank Williams. Ele se casou como Dorothy Bonvillion aos 17, mas se divorciou dela antes do nascimento de sua filha. Joes serviu a Marinha de 1950 a 1953, e então foi contratado pela gravadora Starday Records, onde um dos donos, Pappy Daily, virou produtor e empresário do cantor. Seu primeiro single, “No money in the deal”, foi lançado em 1954, mesmo ano em que ele se casou com Shirley Coley. Eles tiveram dois filhos antes do divórcio, em 1968.
Lançado em 1955, “Why baby why” foi o primeiro sucesso de George Jones. Durante os anos 1950, ele compôs ou participou da composição de muitas das canções que gravou, inclusive hits como “Just one more,” “What am I worth” e “Color of the blues”. Mais tarde, Jones deixaria a composição de lado. Em meados dos anos 1950, ele teve um flerte com o rockabilly, gravando com os nomes de Thumper Jones e Hank Smith. Nessa época, ele já tinha começado a beber pesado. “White Lightning”, canção que atingiu o topo das paradas country em 1959, precisou de 83 takes até ficar pronta porque o cantor estava bêbado. Na estrada, ele costumava destruir quartos de hotel e se meter em brigas. E começou a não fazer algumas de suas apresentações porque estava muito embriagado. Os sucessos de rádio, no entanto, continuaram.
Em 1966, George Jones conheceu uma estrela ascendente do country, a cantora Tammy Wynette, e eles se apaixonaram. Ela estava casada com Don Chapel, compositor que fornecia canções tanto para ela quanto para Jones. Os dois acabariam se casando em 1969. Dois anos depois, o cantor assinou contrato com a Epic Records, que também era o selo de Tammy, e começou a gravar duetos com ela. Três deles, “We’re gonna hold on,” “Golden ring” e “Near you” chegaram ao primeiro lugar das paradas country. Mas o casamento, aos poucos, foi desmoronando, por causa das brigas e do farto consumo de álcool e anfetamina de Jones. Eles se divorciariam em 1975, embora voltassem a gravar juntos esporadicamente.
Depois do divórcio, o cantor passou a beber ainda mais, a usar cocaína e a andar armado (chegou a ser preso depois de dar um tiro no carro de um amigo, em 1977). Suas músicas não faziam mais sucesso e ele deixou de ir a muitos de seus shows. Alguns amigos e admiradores o ajudaram. James Taylor fez a música “Bartender blues” e a gravou com ele, em dueto. Em 1979, no album “My very special guests”, cantou com Willie Nelson, Linda Ronstadt, Elvis Costello e Emmylou Harris. Apesar de tudo, no mesmo ano ele teve que decretar falência. E no ano seguinte, voltou ao topo das paradas com “He stopped loving her today”, o que o ajudou a reerguer sua carreira e a tornar-se, novamente, um hitmaker do country. Em 1983, George Jones se casou com Nancy Sepulveda, que ajeitou sua vida financeira e o fez largar o uísque e a cocaína.
Até 1999, quando sofreu um sério acidente de carro, Jones costumava fazer 150 shows por ano. Ano passado, ele recebeu un Grammy por sua obra. Nos últimos anos, George Jones vinha mantendo o som tradicional do country, que havia desaparecido das rádios comerciais. “Eles nos apagaram a todos de uma vez só”, disse ele, em 2012, durante conversa com o fotógrafo Alan Mercer. “Não é o jeito certo de fazer essas coisas. Você não pode pegar algo tão grande quanto o que fizemos e descartar assim, sem remorso. Eles não se importam com você como pessoa. Lá em Nashville, eles nem sabem mais quem eu sou.”