RIO - Cleyde Yáconis afirmava que precisava do trabalho para manter-se viva. A atriz se referia, sobretudo, à prática teatral, mesmo que não desprezasse a televisão. A paixão pela profissão era evidente não “apenas” no modo como se engajava, nos projetos como na dedicação a todas as atividades ligadas ao ofício. Quando ministrou um curso na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), decidiu antecipar o horário das aulas para se debruçar sobre cada aluno. Na época em que gravava “Olho no olho”, de Antônio Calmon, na Globo, reuniu um grupo de atores da novela para ensaiar textos teatrais.
Símbolo de um teatro efervescente, Cleyde não se conformava com a diminuição dos dias de apresentação. No início da década de 50, quando começou, os espetáculos eram exibidos de terça a domingo, em nove ou dez sessões semanais. Cleyde fez parte do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e ingressou na carreira por acaso, substituindo às pressas Nydia Lícia na produção de Luciano Salce para “O anjo de pedra”, de Tennessee Williams. Em entrevista à série “Grandes damas”, exibida no GNT, Cleyde comenta que não percebera que sabia o texto de cor.
Mas ainda não pensava em se tornar atriz como a irmã, Cacilda Becker, figura de ponta do TBC. Nem quando foi convidada por Ziembinski para integrar o elenco de “Pega-Fogo”, de Jules Renard. Seu alvo era a medicina. Não demorou nada, porém, para o teatro tomar conta da sua vida. Destacou-se, já nos anos 50, nas montagens de Adolfo Celi para “Assim é (se lhe parece)”, de Luigi Pirandello, na qual evocou a avó para compor a Senhora Frola, distante de sua faixa etária; e na de Ziembinski para “Maria Stuart”, de Schiller, fazendo Elizabeth, rival da personagem-título interpretada por Cacilda. Saiu da companhia para fundar o Teatro Cacilda Becker (TCB) com Cacilda, Walmor Chagas e Fredi Kleemann, voltando ao TBC na fase final , quando participou de montagens de textos brasileiros (“A semente”, de Gianfrancesco Guarnieri, e “Vereda da salvação”, de Jorge Andrade) e atuou sob a condução de Antunes Filho (em “Yerma”, de Federico Garcia Lorca, e “Vereda...”).
Ao longo dos anos, Cleyde brilhou em “A filha de lúcifer”, de William Luce, solo dirigido por Miguel Falabella em que viveu a escritora Karen Blixen. Com Ulysses Cruz, fez “A cerimônia do adeus”, de Mauro Rasi, e “Péricles – Príncipe de Tiro”, de Shakespeare. Em “O baile de máscaras”, de Rasi, o texto fazia referência às reuniões promovidas por Sergio Britto, para uma maratona de filmes e óperas com os amigos, durante o Carnaval. Cleyde interpretou Uberta Molfetta, personagem diretamente inspirada em Mimina Roveda, sócia do Teatro dos 4 (com Britto e Paulo Mamede).
Na televisão, Cleyde Yáconis brilhou, travando parceria com Silvio de Abreu nas novelas globais “Rainha da sucata”, “Torre de Babel”, “As filhas da mãe” e “Passione”, ocasiões em que a sua veia humorística foi bem aproveitada. Nesses momentos, o público comprovou que a dama era dona de timing irrepreensível.