RIO - O samba está presente na Lapa quase o tempo todo. A arte contemporânea dá as caras em programações específicas. Mas desta vez as duas linguagens vão estar juntas no evento "Lapa em 3 tempos". O objetivo é reverenciar Waldir 59, compositor e um dos mais antigos membros da Portela. Para isso, debate, projeções e muita cantoria ao vivo - os dois últimos, acontecendo simultaneamente - vão acontecer nesta segunda-feira, de graça, na rua, a partir das 19h.
A parte dos Arcos próxima ao Bar Semente (na esquina da Rua Joaquim Silva) receberá um telão, que exibirá imagens produzidas pela artista plástica Anita Ekman Simões. Uma das idealizadoras do projeto, Anita desenvolveu uma técnica que usa pontas de copiões de películas cinematográficas para criar efeitos visuais insólitos. Usando um estilete e um bisturi, ela desenha nos copiões de 35mm. Assim, Anita consegue fazer traços verdes e amarelos no fundo preto da parte inicial do rolo de película, normalmente jogada fora nas salas de projeção por não ter qualquer tipo de uso.
Durante a roda de samba comandada por Waldir 59, o pandeiro de Sergio Krakowski, outro idealizador do evento, estará equipado com um aparelho que permite que os sons emitidos pelo instrumento sejam convertidos em sinais que comandam as projeções.
— É muito interessante essa mistura entre a película, que é um formato que está quase sendo abandonado, com a alta tecnologia do pandeiro do Sergio — diz Anita.
Nesse encontro entre passado e presente, Waldir 59 é figura central. O compositor de 85 anos já ganhou por cinco vezes as disputas de samba-enredo na Portela. Dois deles venceram o carnaval: o de 1957 e o de 1959. Em 1991, o lendário sambista levou um Estandarte de Ouro como personalidade do carnaval para casa. Anita que, está filmando um documentário sobre o músico, diz que a obra dele não recebe a atenção que merece.
— Ele tem glaucoma, está cego e precisando de tratamento. Apesar de ser da Velha Guarda, ele não faz parte da formação que se apresenta em shows. Acho que ele está muito esquecido. Além dos sambas-enredo campeões, ele tem músicas muito bonitas — opina.
Trechos do filme, que ela dirige junto com Alberto Bellezia e Marcelo Noronha, também serão exibidos no evento. A produção da Maranduva Filmes está parada à espera de incentivos ficais para que possa continuar. Um teaser de quase 4 minutos do documentário também já está disponível na internet. Antes da projeção, Wilson 59 conversará com Anita e Krakowski sobre a extensa carreira.
O público poderá escutar, durante a roda de samba, uma composição inédita de Waldir. A canção “Lapa em 3 tempos” foi escolhida para batizar o projeto justamente por esse motivo. Além de Sergio e Waldir, os músicos que formarão a banda são a cantora Nina Wirtti, o bandolinista Luis Barcellos, o violonista Rafael Mallmith e o percussionista Sandro Carioca. Além dos tradicionais sambas e choros, serão executados “choros-funk” criados por Sergio.