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‘Uma história de amor e fúria’ conta paixão que dura seis séculos

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RIO - “Uma história de amor e fúria” chega aos cinemas nesta sexta-feira seguindo a linguagem adotada por Hollywood nos últimos anos: a das histórias em quadrinhos. O longa de Luiz Bolognesi segue a estética do gênero e adiciona história brasileira para dar vida a um amor que dura seis séculos. As duas temáticas não foram escolhidas por acaso:

- Sou apaixonado por história do Brasil e histórias em quadrinhos desde a adolescência - conta o diretor que também produziu “Bicho de sete cabeças”.

A positiva repercussão nacional e internacional desse filme, inclusive, foi o empurrão que Bolognesi precisava para unir suas duas paixões juvenis. E a fórmula de contar o amor de Janaína e Abeguar em vários períodos, como na ditadura militar, está dando mais que certo. A recepção tem sido muito incrível, de acordo com Bolognesi, e o filme já foi chamado para concorrer em festivais internacionais - em março, foi exposto nos de Miami e Holanda, e em abril será no da Alemanha.

A inspiração das HQs veio de Tim Tim e de graphic novels:

- Quando adolescente, descobri essas HQs que tem uma carga de fantasia, erotismo e uma dose de violência. Minhas fontes eram as revistas de Hugo Pratt e as edições de Heavy Metal e Animal. Até hoje tenho essa coleção e a do Tim Tim.

A intenção é tornar o filme ainda mais plural e alcançar tanto jovens quanto adultos. Mas foram necessários sete anos para realizar todo o projeto, que tornou real o segundo filme de animação inteiramente nacional em cem anos. Os percalços foram recursos e pessoal especializado - mas, no último quesito, o diretor deu sorte.

- Encontramos 40 jovens extremamente talentosos, com os quais divido a autoria do filme. O fim, por exemplo, foi redefinido pelo grupo. Foram dois meses de conversas e propostas para encontrar modos de contar a história de um modo realista e o melhor jeito de desenhá-la. Foi um processo intenso e longo, e o resultado se deve ao talento deles - disse, orgulhoso.

Pelo lado da história do Brasil, Bolognesi comprava e lia livros e documentos que encontrava. Ele tem cartas de jesuítas ao Papa abordando a rotina em São Paulo, na Bahia ou no Rio de Janeiro e dos ataques que sofreram de bandeirantes. Para o diretor, esses achados são uma espécie de trilha que foge da curva do que é ensinado aos alunos nas salas de aula.

- A nossa história depende de cada professor. Enquanto algumas histórias são bem contadas, outras são de decorebas. Tem professores que te dão tesão em ouvir o assunto, e outros não. Mas creio que, no geral, não se descobriu a possibilidade de contar uma história sem poeira - argumenta, acrescentando: - Tendo a compreensão do passado e consciência histórica, podemos mudar o futuro.

Esse ensino engessado se reflete no cinema nacional, que raramente apresenta nossa história - ao contrário dos Estados Unidos, cuja indústria cinematográfica frequentemente se deita na história para filmar novos longas (como “Lincoln”, “Django Livre” e “A hora mais escura”). “Uma história de amor e fúria”, segundo seu criador, pretende contá-la como é: “cheia de tragédias e histórias que nos deixam indignados”. Bolognesi quer que as pessoas saiam da sala de cinema reflexivas e incomodadas.

Debate sobre o papel da história

O debate sobre história empreendido por Bolognesi sai das telas e chega às livrarias com “Meus heróis não viraram estátuas”. A publicação da editora Ática foi realizada em parceria com Pedro Puntoni, professor da USP e consultor do longa, e trata da memória e das histórias brasileiras.

- O livro trata das versões que ficam e das alternativas, de quem a escreve e quais heróis são exaltados. Ele vem para levantar questionamentos, e não para dar respostas - explicou Bolognesi.

O diretor conta que vários heróis foram e continuam sendo injustiçados ao longo da história, sem ganhar o reconhecimento de quem faz história:

- Manuel Balaio, por exemplo, enfrentou o regime de humilhação, levantou um movimento [a Balaiada, no Maranhão] e não é lembrado. Ao invés disso, tem várias estátuas de Duque de Caxias, que fez um massacre. Outros tantos heróis não são vistos assim, como Chico Mendes, Chiquinha Gonzaga, Davi Yanomami.


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