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Nas águas leves do Dois em Um

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RIO - A água que envolve Fernanda Monteiro e Luisão Pereira na capa transborda para o interior de “Agora”, segundo CD do Dois em Um — projeto do casal, marido e mulher, ela carioca, ele baiano de Juazeiro, moradores de Salvador. O próprio Luisão chama a atenção para como o mar, as marés, as ondas estão presentes nos versos de canções feitas por diferentes letristas — um acaso. Mas como acaso, se tudo na alquimia original que ele (principal compositor e multi-instrumentista) e ela (violoncelista e cantora) estabelecem em sua música aponta para flutuação, leveza, etéreo, levitação (ideias insistentes nas letras, aliás)?

— O primeiro CD (de 2009) veio com músicas daquele momento em que eu tinha saído da Penélope — lembra Luisão, referindo-se à banda que integrou e com a qual chegou a se destacar no fim dos anos 1990. — Comecei a compor sem pensar numa banda, então podia vir qualquer coisa, samba...

Fernanda, violoncelista da Orquestra Sinfônica da Bahia, completa:

— Tinha indie, grunge...

Luisão conclui:

— Em “Agora”, olhei mais para o Dois em Um, para Fernanda, para a sonoridade que já tínhamos construído. Tem as coisas de que gostamos, como o silêncio, que tem enorme valor na música erudita, de onde Fernanda vem. E eu sou da terra de João Gilberto — brinca.

O CD de estreia carrega o caráter artesanal de ter sido gravado em casa. “Agora” tem o acabamento mais fino de um estúdio — desta vez, eles tiveram a verba de um edital do Conexão Vivo, por meio do Governo da Bahia.

A confluência de águas do álbum — cujo lançamento é nesta quarta-feira, em Salvador, na Sala de Coro do Teatro Castro Alves — traz convidados como Tulipa Ruiz (que canta em “Saturno”), Letieres Leite (o maestro da Orkestra Rumpilezz assina o arranjo de sopros minimalista de “Matinê”), Rebeca Matta (vozes em “Festim”) e Ronaldo Bastos (parceiro de Luisão em “Você tem o que eu preciso”). Cada um veio de um lado, mas todos amigos, incluídos no universo de afeto do Dois em Um (amor, morte, distância, encontro são temas).

— Tinha duas músicas sem letra, e Kassin falou: “Isso é a cara do Ronaldo Bastos”. Pensei: “O Ronaldo Bastos de ‘Cais’, de ‘Um certo alguém’? Maluquice”. Mas ele foi num show da gente, e no dia seguinte já começamos a fazer “Você tem o que eu preciso” — conta Luisão.

Tulipa é amiga e fã da dupla desde antes de se tornar cantora:

— Conhecemos Gustavo Ruiz (guitarrista, irmão de Tulipa, também no CD) e, logo depois, Tulipa. Desde seus primeiros ensaios, fiquei chapada. Chamá-la foi natural — diz Fernanda.

“Agora”, o nome, define um período, Luisão diz, marcado pela morte de seu pai — a quem dedica “Um porto”, escrita quando soube do fascínio dele pela navegação (“Agora vive a navegar/ Um horizonte além de outro mar”) — e de seu tio Ederaldo Gentil — compositor gravado por Clara Nunes e Alcione, ele é o autor de “Compadre”, canção sobre o fim do amor presente no CD.

— Ederaldo me deu meu primeiro instrumento, um cavaquinho — recorda Luisão. — Queria que Rodrigo Amarante cantasse essa. Ele também, mas não deu. As belezas das melancolias de Amarante e de Ederaldo são muito próximas.


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