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Streaming pago cresce no mundo e novos serviços chegam ao Brasil

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RIO - Menina dos olhos da indústria internacional, o Brasil é um dos nove países — entre os 20 maiores mercados do mundo — que tiveram crescimento na venda de música gravada em 2012. E isso vem atraindo um tipo específico de serviço: o de difusão musical em tempo real mediante pagamento, popularmente conhecido por streaming. Os motivos são claros. De acordo com o relatório anual da Federação Internacional da Indústria Fonográfica, IFPI (da sigla em inglês), divulgado ontem, em 2012 este modo de se consumir música cresceu 44% no mundo todo em relação ao ano anterior. Somado às outras modalidades digitais, o streaming ajudou a impulsionar o mercado da música, que voltou a tomar fôlego e apresentou seu melhor resultado desde 1998. O estudo foi divulgado paralelamente aos resultados da Associação Brasileira de Produtores de Discos, a ABPD, que apontou o aumento de 83,12% nas receitas da área digital, com arrecadação de R$ 111,4 milhões no último ano. Pagar por música volta a ser uma opção cada vez mais viável, portanto.

Na esteira das tendências internacionais, o streaming tem tudo para ganhar força por estas bandas em 2013, em parte por conta da chegada da francesa Deezer, que, no fim de janeiro, marcou o Brasil como o 182º país em que opera, se juntando ao Rdio e ao Sonora. Aquecendo a disputa, o gigante Spotify está em negociações com gravadoras brasileiras desde 2012 e deve iniciar suas operações no país também neste ano. Os sinais se tornaram mais evidentes em meados de janeiro, quando alguns brasileiros foram bem-sucedidos ao criar contas no serviço, geralmente bloqueado para os países onde a empresa não está. Para engrossar o caldo, o Google está cada vez mais perto de entrar na briga, lançando seu próprio serviço entre abril e junho, o que, de acordo com o jornal “Financial Times”, deve forçar Apple e Amazon a se entregarem de vez ao streaming.

Hoje, o mercado digital já representa mais de 28% do total brasileiro e, apesar da queda de 18,6% dos serviços de streaming — ocasionada por uma drástica redução do número de assinantes do Sonora (em operação desde 2006, e que chegou a ter mais de 300 mil usuários) —, especialistas afirmam que a modalidade vai recuperar espaço e ganhar fôlego.

— Esperávamos que Deezer, Spotify e Pandora começassem a trabalhar no Brasil ainda em 2012, fazendo que o streaming no país crescesse como no restante do mundo. Com a chegada deles, enfim, esse movimento vai ser visto em 2013 — explica Paulo Rosa, presidente da ABPD. — Hoje o cenário da música digital no país é balanceado. Além do streaming pago, ainda temos o streaming bancado por publicidade, como acontece no YouTube e Vevo, e a venda de downloads, impulsionada em 909% em 2012 pela chegada do iTunes, a loja da Apple, ao país. A equação se completa com a venda de toques de celular, ainda muito forte por aqui.

Seguindo as velhas leis de mercado, quem ganha com a concorrência é o consumidor. A operação dos principais serviços de streaming disponíveis no país, e os que estão por vir, é praticamente a mesma: ao pagar uma mensalidade (que varia entre R$ 8,90 a R$ 22,90, dependendo do plano), o usuário tem acesso a um vasto catálogo, que pode ser ouvido no computador, celulares, tablets e até SmarTVs, on-line ou offline. Todos os principais serviços também têm características de redes sociais, em que cada assinante pode compartilhar o que está ouvindo e recorrer às indicações dos amigos.

Ao menos no Brasil, Deezer, Rdio e cia. têm um grande desafio pela frente, maior até do que lidar com a crescente concorrência: fazer com que o público volte a pagar por música. O hábito perdeu força desde a ascensão do Napster, no começo da década de 2000, dando início a uma longa e infinda guerra entre artistas e sites de compartilhamento surgidos desde então. O resultado é conhecido por todos: a indústria fonográfica mergulhou numa crise sem precedentes, da qual busca se recuperar usando a internet como aliada — e não mais como inimiga.

— Precisamos educar os consumidores e mostrar que, pelo preço de um disco digital, tem-se acesso a milhões de músicas, e que isso vale a pena — analisa Scott Bagby, vice-presidente do Rdio.

O principal chamariz dessas companhias é, além de oferecer uma maneira relativamente barata de voltar à legalidade, a simplicidade. Todos os serviços citados têm sites e aplicativos fáceis de se navegar.

— Ninguém mais perde tempo procurando música. E você ainda pode compartilhar o que ouve sem ser chamado de ladrão — elogia em bom português o francês Mathieu Le Roux, diretor geral da Deezer para a América Latina. — Você também não precisa mais ter espaço no computador para armazenar os arquivos, não corre o risco de perdê-los e pode acessar sua coleção de qualquer plataforma móvel.

Para o professor da Fundação Getúlio Vargas Ronaldo Lemos, autor de “Tecnobrega: o Pará reinventando o negócio da música”, os serviços de streaming por assinatura já tomaram o caminho certo, mas ainda têm muito a melhorar para se adequar aos brasileiros.

— Para que um serviço digital faça realmente sentido num país com a renda média do Brasil, ele precisa ter catálogo ilimitado, preço baixo e portabilidade. Os serviços disponíveis resolvem isso apenas parcialmente. Os catálogos da Deezer e Rdio são amplos, mas têm buracos com relação a música brasileira, especialmente a mais popular. O preço é mais baixo do que o do iTunes, mas nem todo mundo pode desembolsar cerca de R$ 15 por mês.

Apoio da indústria, reclamações dos artistas

No fim de janeiro, um artigo publicado no “New York Times” questionava a validade da modalidade para os artistas. A reportagem foi motivada pelo desabafo da violoncelista americana Zoe Keating, que publicou em seu site uma planilha detalhando suas fontes de renda. E, segundo os cálculos, aquela proveniente de serviços de streaming era ínfima. Para pouco mais de 1,6 milhões de audições de suas músicas em sites como Spotify e Pandora, a musicista recebeu cerca de US$ 2,2 mil, bem menos que a receita gerada com a venda de músicas e a realização de shows.

Paulo Rosa, porém, não concorda com o raciocínio proposto por Zoe.

— Não se pode misturar a renda de donwload com a do streaming, são modelos de negócio diferentes, novos e que geram renda diferentes.

No afã de agradar os artistas garantindo a manutenção de seus catálogos, Rdio e Deezer criaram programas em que os músicos são remunerados diretamente a cada novo assinante atraído por eles. Para Mauricio Tagliari, diretor artístico do selo YBMusic, que detém no portifólio artistas indies como Tulipa Ruiz, Nina Becker e Cidadão Instigado, a mudança está só no começo.

— Os artistas mais novos geralmente acham legal disponibilizar sua obra gratuitamente. Podendo ganhar algo com isso, por que não? — questiona. — O Brasil passou a última década entregue à cultura de que não deve se pagar por música. Para botar em perspectiva, prefiro comparar os serviços de streaming às rádios. O artista não levava pela execução nas rádios o mesmo que ganhava pela venda de LPs e CDs. É claro que, a partir de agora, há muito o que se discutir para evoluir, mas sou a favor.

Representantes das grandes gravadoras parecem concordar. Vice-presidente da divisão digital e de novos negócios da Sony Music, Claudio Vargas demonstra otimismo.

— A indústria está conseguindo se sustentar por conta dos diversos modelos digitais. Hoje atendemos clientes de diferentes perfis e gostos. Nesse caso, a aferição do que foi executado pelos assinantes dos serviços de streaming é mais complexa, já que o cliente paga para escutar o que quiser e à vontade, mas de forma legal. Isso tende a se tornar cada vez mais satisfatório pra todas as partes, em âmbito mundial. Como é um mercado novo, é natural que se crie um receio entre os artistas — justifica, comemorando que a comercialização de música em formato digital já representa 30% da receita da Sony, o dobro de 2011.


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