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My Bloody Valentine lança, sem alarde, o artesanal ‘MBV’

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RIO - Depois de 21 anos, nem mesmo o mais crédulo dos fãs do My Bloody Valentine esperava mais por um novo álbum. Misteriosamente, como é de costume com essa banda formada há quase 30 anos em Dublin, Irlanda, o novo disco foi lançado. No fim de semana, logo depois de algumas promessas do líder Kevin Shields de que o CD sairia “dentro de uns dois ou três dias”, o site da banda anunciou o início da venda digital (e da pré-venda física) de “MBV”. A procura foi tanta que o site da banda acabou travando.

A solução para quem queria ouvir o tão esperado trabalho foi recorrer ao canal do My Bloody Valentine no YouTube (TheOfficialMBV), no qual foram postas, para streaming, as nove faixas do disco. Desde então, nenhum outro assunto mobilizou tanto os apreciadores do rock alternativo: “MVB” é isso tudo mesmo ou a espera foi em vão?

Uma enquete, inclusive, chegou a ser feita pelo jornal inglês “The Guardian”, até o momento do fechamento com 94% de aprovação para o disco. O fato é que, antes de iniciar sua trajetória errática (que incluiu um hiato entre 1997 e 2007), o My Bloody Valentine lançara um álbum que o transformou em objeto de culto: “Loveless” (1991), um disco em que vocais etéreos se casavam com sons de guitarra jamais ouvidos. Uma Disneylândia psicodélica que pôs a banda à frente de todos os seus contemporâneos do movimento shoegaze (uma ironia com as bandas britânicas de rock do fim dos anos 1980, tão concentradas no som de seus pedais de efeitos que os guitarristas tocavam olhando para os próprios sapatos) e angariou seguidores mundo afora.

Kevin Shields, 49 anos, é a personificação do shoegaze. Um obcecado por texturas sonoras, que chega a usar até 30 pedais ligados em suas guitarras Fender Jazzmaster e Jaguar para atingir o som que deseja. O cara que enlouqueceu técnicos de som quando se meteu a remasterizar “Loveless” e “Isn’t anything” (1988), em busca de detalhes sonoros que ele jurava conseguir ouvir nas fitas originais (e que ninguém mais conseguia).

Resultado de seu perfeccionismo ao longo de 21 anos, “MBV” é realmente um disco daqueles que não se fazem mais. Shields ingnorou toda a estética digital de ProTools e plug-ins que se instalou nos estúdios do planeta desde “Loveless” e fez um disco analógico, artesanal em sua manipulação de sons. Em faixas como “Who sees you” e “She found now”, o velho My Bloody Valentine ressurge, como se nem um dia tivesse se passado desde o lançamento do álbum anterior: uma cápsula de beleza e assombro, caminhos melódicos imprevisíveis, o barulho vertido em arte. Em outros momentos, como em “The new you” e “Only tomorrow”, pode-se dizer que a banda chegou bem perto do pop. Mas isso seria também admitir que, nos últimos 21 anos, o pop também pegou muitas lições do My Bloody Valentine (e se deu muito bem com elas, vide o sucesso, nos anos 1990, dos americanos do Garbage).

O comentário mais comum acerca de “MBV” é que se trata de um disco para ouvir inteiro (outro velho conceito retomado pelo grupo) mais do que para ser retalhado em faixas no iTunes. Repetidas audições do álbum certamente fazem com que adquiram algum sentido as suas faixas mais investigativas, como é o caso de “In another way” (com suas batidas quebradas e guitarras em torrente), “Wonder 2” (uma inusitada incursão da banda no drum’n’bass, gênero que prosperou enquanto ela se manteve fora dos estúdios), “Is this and yes” (contemplativa faixa na qual teclados substituem as guitarras) e “Nothing is”, um extenso loop de guitarra que, aparentemente, não vai a lugar nenhum.

Para acompanhar o lançamento de “MBV”, o My Bloody Valentine faz uma turnê, que se inicia nesta quarta em Osaka, no Japão, segue pela Austrália e, no mês que vem, chega ao Reino Unido (dias 12 e 13, a banda se apresenta no lendário Hammersmith Apollo, em Londres). Se o próximo álbum do My Bloody Valentine sai antes de 2034, só Kevin Shields poderá dizer. Mas, ao que indicam as resenhas da imprensa especializada, “MBV” tem material suficiente para manter os discípulos da banda ocupados e discussões e reverências por pelo menos mais 21 anos.


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