RIO - Um baile de Carnaval? Um show para o seu público fiel? Na dúvida, Roberta Sá ficou com os dois. No Baile da Rosa (que teve a sua segunda edição na noite de sábado, na Miranda, e que volta no próximo sábado, numa noite em homenagem a Iemanjá), a cantora fez um pré-carnaval movido a samba-funk, frevo, marchinhas e batuques, com músicas do seu repertório e algumas canções que não se costuma ouvir por aí, nos demais bailes da cidade.
— Eu queria algo que tivesse a ver com carnaval, mas que não fosse marcadamente carnavalesco. Algo como os bailes da Lapa, para dançar juntinho — disse Roberta, num intervalo entre os dois sets da noite, no seu melhor modelito de pirata estilizada. — Por isso, fui atrás de músicas pouco óbvias, como as do repertório de Dolores Duran, que é uma cantora muito associada à tristeza, mas cantava músicas muito divertidas, como é o caso de “Estatuto de boate” (“Vamos com calma, olha o respeito/ Cuida do corpo, que a alma, não tem mais jeito”), de Billy Blanco.
Clássicos e hits recentes
E o público embarcou na proposta da cantora, acorrendo à Miranda animado e devidamente fantasiado (era a noite do Baile à Fantasia), apesar da chuva que lavara a cidade poucas horas antes. Baiana, melindrosa, pierrô, colombina e demais foliões se aqueciam com as marchinhas do DJ Janot quando Roberta entrou no palco, com a sua banda devidamente fantasiada e liderada pelo guitarrista, produtor e arranjador Rodrigo Campello. Logo, a festa se instalou, com músicas bem conhecidas do repertório de Roberta, como “Alô fevereiro” (Sidney Miller), “Cicatrizes” (Niltinho e Paulo Cesar Pinheiro), “Samba de um minuto” (Rodrigo Maranhão) “Interessa” (Carvalhinho), “O Nego e eu” (João Cavalcanti) e o “Samba do balanço” (Luiz Machado).
Vozes clássicas da MPB também tiveram sua representação na noite, com “Tristeza pé no chão” (do repertório de Clara Nunes) e na dobradinha da Dolores Duran espirituosa, “Feiúra não é nada” (“Mete a cara, pois concurso de beleza / Não tem mais a dureza que outrora tinha”) e “Estatuto de boate”. Uma suíte samba-enredo (com “Sonhar não custa nada! Ou quase nada”, da Mocidade Independente e “Festa profana”, da União da Ilha, entre outros clássicos) deu fim ao primeiro set da noite. Segundo Roberta, a divisão em duas partes é para dar mais tempo aos foliões de chegar ao baile. E, é claro, para marcar a diferença em relação ao seu show mais convencional. A ideia, conta, era que a segunda parte fosse aquela em que a festa pega fogo. Era só conferir.
Após um intervalo de cerca de 15 minutos, Roberta e banda voltaram ao palco, atacando de marchinhas como “Primeiro clarim” e “Máscara negra” e de canções cheias de intenções como “Meu carnaval” (“Verão do pecado, meu biquíni molhado / A rua passando e ninguém ao seu lado”), de Silvia Machete. E aí, com direito a invasão do palco pelo público, a festa tomou rumo livre, alternando números como “Deixa o verão” (do hermano Rodrigo Amarante, gravada também por Mariana Aydar), “Banho de espuma” (sucesso disco-carnavalesco de Rita Lee) e músicas do seu próprio repertório, como “Girando da renda” (Pedro Luís, Sérgio Paes e Flávio Guimarães), “Bem a sós” (Rubinho Jacobina) e “Ah, se eu vou” (Lula Queiroga). Arrasta-pé também não faltou ao Baile da Rosa, com interpretações de Roberta para “Forró do ABC” e “Sebastiana”, numa reverência a Jackson do Pandeiro.
A intenção de realizar um espetáculo carnavalesco, segundo a cantora, vem dos tempos de começo de carreira, em que fez um show com o trombonista Zé da Velha e o trompetista Silvério Pontes, mais o Trio Madeira Brasil, no Clube Democráticos, na Lapa. Carnavais em outras cidades roubaram a sua atenção, mas só até o ano passado, quando ela se decidiu a parar para formatar o seu Baile da Rosa.
A boa experiência tem feito a cantora considerar a possibilidade de transformar o Baile em um show fixo. Finda a temporada na Miranda, ela repete a dose pelo menos uma vez: no dia 11, segunda-feira de carnaval, no palco montado nos Arcos da Lapa.
— Cada noite do Baile é um laboratório, vamos incluindo músicas, fazendo testes, vendo como é que o público reage às novidades — diz Roberta.