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'Ocupação Jards Macalé' homenageia vida e obra do 'Batman da música' brasileira

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RIO - O tijucano Jards Macalé, de 71 anos, é uma figura tão controversa quanto marcante no universo da MPB. Em 50 anos de carreira, o cantor, compositor, violonista, produtor, arranjador e ator trafegou com desenvoltura pelas mais diversas áreas: música, cinema, televisão, teatro e artes plásticas.

Atuou e fez trilha sonora em filme de Nelson Pereira dos Santos. Compôs para exibições de Helio Oiticica, Xico Chaves e Lygia Clark. Dirigiu Maria Bethânia e Gal Costa. Foi parceiro de Waly Salomão, Vinicius de Moraes e José Carlos Capinam. Produziu "Transa" (1972), obra-prima do período de Caetano Veloso no exílio, em Londres. De tudo, "Macao" fez um pouco.

Celebrando essa ampla produção, a "Ocupação Jards Macalé" abriu no último sábado e vai até o dia 06 de julho no Itaú Cultural, em São Paulo. Inaugurada com um show do homenageado, a exposição tem o aspecto visual assinado pelo escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli, em sua primeira cenografia, e abrange todos os aspectos da obra construída por Macalé em quase meio século.

Jards Macalé com a máscara do Batman, um de seus heróis favoritos - Leonardo Aversa / Agência O Globo

Em entrevista por telefone ao GLOBO, o multiartista — defensor do lema "Amor, ordem e progresso" para a bandeira brasileira — falou sobre a nova exposição, da geração dourada da MPB a qual pertence e de suas obsessões: pipa, quadrinhos e mágica. Bem-vindo à "Macalândia".

Como surgiu a ideia para uma "ocupação" sobre o seu trabalho?

A iniciativa para a exposição partiu do próprio Itaú Cultural. Achei interessante poder juntar os cacos da minha história. Cada coisa ali entra num contexto da minha trajetória, forma o conteúdo total da minha obra.

Mas onde se encaixa a sua obra em meio a tantas atividades distintas?

Através da música, explorei outras vertentes: teatro, cinema, artes plásticas, literatura, trilha sonoras para exposições... Como ator, me vejo como um canastrão (risos). Bem, não exatamente um canastrão. Não sou um ator profissional, mas amador. Amador é aquele que ama. Ou quem ama a dor. A música me leva a tudo isso. E tudo isso sempre alimentou a minha música.

O convite para a participação do Lourenço Mutarelli na exposição tem alguma ligação com seu amor por quadrinhos?

O Mutarelli foi sugestão da curadoria do Itaú Cultural. Era uma tentativa de me retratar como um super-herói. Por causa do meu amor por quadrinhos.

Além dos quadrinhos, quais são suas outras paixões?

Coleciono pipas de vários tipos, tamanhos e países. E sou um apaixonado pelo ilusionismo. A música também é uma forma de ilusionismo. Sempre adorei mágica, sou um mágico amador.

Seu alter-ego "Elacam Tená" fará uma exibição de mágica na mostra, não?

Sim. Um mágico profissional irá me ajudar a realizar alguns truques (risos).

E como essas obsessões contribuem em sua carreira musical?

A sequência dessas coisas todas se comunicam, se interligam. Na história em quadrinhos, o Batman é defensor da lei, mas é um fora da lei. Ele cria sua própria lei. Eu sou o batman da música. Fiz sempre o que quis, mas sempre pelo bem da música.

Você declarou uma vez que havia sofrido um "boicote pela produção musical" brasileira. Foi por causa de seu encontro com o Golbery? Isto explica seu período sabático?

Eu nunca parei de produzir. Na verdade, o encontro com o Golbery (Golbery de Couto e Silva, ministro nos governos de Geisel e Figueiredo durante a ditadura) foi para tentar liberar o álbum do "Banquete dos Mendigos" (show realizado no MAM, em 1973, em homenagem aos 25 anos da declaração dos direitos humanos, que também contou com a presença de Raul Seixas, Chico Buarque e Gal Costa, entre outros). Levei a carta dos direitos humanos debaixo do braço. Não tenho nenhum arrependimento. Tenho essa irreverência.

Você faz parte de uma geração que inclui Caetano, Gil, Chico, Gal, Bethânia, Milton, entre muitos outros gigantes da MPB. Ela envelheceu bem?

Cada um vê o envelhecimento de sua maneira. Esta é uma geração muito forte, que produz muito e muito bem. Os que se foram deixaram uma obra rica, vigorosa. É uma geração que envelhece bem. O artista é longêvo, não se aposenta. Enquanto você tem forças para trabalhar, trabalhar é inevitável. É o que dá saúde e o que nos mantém vivos.

Qual será a trilha sonora da mostra?

Vai ser a compilação de toda a minha carreira. Desde meu primeiro disco ("Só morto", de 1971) até o último, "Jards", que lancei em 2011.

O que o visitante pode esperar ao visitar a "Ocupação Jards Macalé"? Amor, ordem e progresso?

Ele pode esperar amor. Em um processo de ordem interna, um mergulho nessas várias áreas que estavam dispersas e que formam a linguagem do artista quando juntas. O progresso é a obra, que está sempre em andamento.


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