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Palhaço francês Pierre Étaix prepara novo espetáculo para outubro

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PARIS — Aos cinco anos de idade, o francês Pierre Étaix foi seduzido pela magia do circo. Naquele momento, traçou seu destino de um dia se tornar palhaço.

— Foi uma completa sedução — conta ele. — O palhaço podia fazer tudo o que era proibido para as crianças. Eu estava com meu avô, e quando vi que ele também ria, notei que era algo que atingia todo mundo, mesmo os mais velhos. O palhaço não tinha fronteiras. É algo que lentamente se perde. Mas não me surpreenderia se ressurgisse, pois as pessoas precisam rir.

Hoje, aos 85 anos, em plena atividade, Pierre Étaix prepara novo espetáculo, com estreia prevista até outubro em Paris.

— Serão três pessoas em cena e mais um pianista. Haverá um antigo aluno da escola de circo que criei com Anne Fratellini (sua mulher, 1932-1997), que é um acrobata extraordinário e um palhaço maravilhoso. Há também um mágico formidável — explica.

Cópias restauradas

Entre os cinco e os 85 anos de idade, muitas aventuras edificaram sua biografia. Algumas delas podem ser conferidas até o domingo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio. A mostra “O cinema de Pierre Étaix” exibe, pela primeira vez reunidos no país, oito filmes dirigidos por ele, todos em cópias restauradas de versões originais (35mm): os longas “O enamorado” (1963), “Yoyo” (1965), “Enquanto tivermos saúde” (1966), “Grande amor” (1969) — considerado sua obra-prima —, “Terra de Cocagne” (1971), e os curtas “Ruptura” (1961), “Feliz aniversário” (1962) — vencedor do Oscar em 1963 — e “Em plena forma” (1966).

O acervo em exibição esteve interditado durante 20 anos por causa de um processo judicial envolvendo direitos autorais, e foi finalmente liberado em 2010, quando começou a ser restaurado. Após a temporada carioca, um evento paralelo ao 2° Festival Internacional de Circo, a mostra segue para Brasília, Recife, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte.

Ao longo de sua trajetória, Étaix diversificou seus meios de criação: foi clown, ilustrador, desenhista, cineasta e autor de teatral e de musicais. Expressava-se por meio de gags ou do slapstick, a comédia pastelão do tempo do cinema mudo. Nas telas, seu maior parceiro na concepção de roteiros foi Jean-Claude Carrière. Na inspiração criativa, teve como principais referências Max Linder, Charles Chaplin, Buster Keaton e também o menos conhecido Charlie Rivel, palhaço espanhol:

— Rivel era um imenso artista, um dos raros que aprenderam todas as disciplinas do circo. Sempre tinha um achado em cena, era sutil e fazia o público rir sem parar durante 40 ou 45 minutos. Foi um grande modelo para mim.

Seus primeiros passos no cinema se deram pela mão do francês Jacques Tati (1907-1982). Em um dia de 1953, após ter assistido a “As férias do sr. Hulot”, contatou o mestre, de quem se tornou colaborador.

— Fui encontrá-lo para pedir conselhos para uma cena cômica de clown que queria montar. Ele me convidou para trabalhar com ele em “Meu tio” porque viu meus desenhos de humor, e me disse: “Você tem o dom da observação”. Aprendi com ele tudo o que era preciso para se fazer um filme, mas não foi um presente gratuito. Ele era muito exigente.

Étaix afirma que seus filmes originavam-se de sua observação e de sua memória. A partir de argumentos simples, procurava criar as gags e inventar ideias para enriquecer o roteiro. Em “Yoyo”, um milionário que tudo possui se entedia em seu castelo; para “Grande amor”, a intenção foi “pegar a história mais banal de um vaudeville”: um homem se apaixona por sua secretária, que tem vinte anos a menos do que ele.

— É tudo. A partir disso fazia slapstick — conta ele, que ganhou um Oscar honorário em 2011. — Em “O garoto”, de Chaplin, um vagabundo encontra um bebê que foi abandonado. O que vem depois é surpresa. Mas o ponto de partida é sempre algo simples.

Como ator, também atuou em filmes de outros gêneros e diferentes diretores. Aparece em “Pickpocket”, de Robert Bresson; “O ladrão aventureiro”, de Louis Malle; “Os palhaços”, de Federico Fellini; “Max mon amour”, de Nagisa Oshima; “Henry e June”, de Philip Kaufman; “O fabuloso destino de Amélie Poulain”, de Jean-Pierre Jeunet, ou “O porto”, de Aki Kaurismäki.

— Foi sempre um prazer, mas sou incapaz de ser dirigido, pois não sou um ator, não posso compreender as sutilezas de um ator. Era difícil para mim, só interpretava coisas que eu imaginava. Quando vejo o filme sei que não sou bom.

Pierre Étaix ainda vê graça na vida, mas revela com um certo tom saudosista:

— Muitas coisas me fazem rir todos os dias, mas nunca o que é feito hoje para divertir.


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