RIO — Numa noite de apagão, Gabriel demonstrou preocupação com o escuro, embora não tenha vertido sequer uma lágrima, como lembra a avó do menino de 3 anos, Mariza Tavares. Naquela noite, ela lhe apresentou uma lanterna e assistiu ao fascínio do neto com o objeto.
— Ele jogava o feixe de luz em tudo e, de repente, não tinha mais medo — lembra Mariza, que, então, usou o episódio como mote para um livro, “O medo que mora embaixo da cama” (Editora Globinho), que tem lançamento no domingo, às 17h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. — Uma história infantil às vezes nasce de uma pequena observação, que fica dentro da gente até ganhar carne, musculatura.
Escrito em rimas, o livro ganhou ilustrações de Nina Millen, que já havia desenhado para o título infantil de estreia de Mariza, “O sofá que engoliu as crianças”, de 2013, também lançado pela editora Globinho. Se no primeiro o foco era em crianças de cinco a oito anos, partindo das brincadeiras da sobrinha Júlia no sofá durante um almoço de domingo, em seu segundo livro infantil a autora tem como público-alvo as crianças na faixa dos 3 anos, assim como seu neto Gabriel.
Diretora executiva da rádio CBN desde 2002 e autora de dois livros de poesia — “Fio” (Editora Jaboticaba, 2006) e “Privação de sentidos” (Editora 7Letras, 2008) —, Mariza conta que trabalhou no infantil ao longo de seis meses e que criou 20 versões do texto (“Para adultos ou para crianças: escrever é difícil”, diz). Optou por fazê-lo com rimas, pois sente que “crianças ficam mobilizadas por versos”.
Assim, o livro é aberto com a estrofe: “Beijo de mãe, antes de dormir,/ mostra que é hora de descansar,/ mas Joãozinho não toma jeito/e logo inventa de se assustar”. A história segue com o menino que imagina monstros no quarto escuro. Com uma lanterna, descobre que o que imaginava ser uma forma assustadora é apenas uma meia, ou que o bicho que o amedrontava era, na verdade, seu macaco de pelúcia.
— Como no livro anterior (“O sofá que engoliu as crianças”), dividi o texto com a Nina Millen, e ela trabalhou nos desenhos. Mas, desta vez, como a gente já se conhecia, acho que ela se sentiu mais à vontade, o traço ficou mais gótico, ela usou mais escuros, e é como se a criança pudesse sentir, nos desenhos, aquele escurão. Sinto que ela fez o livro ficar muito melhor — diz a autora.