NOVA YORK - Andrew Rannells abre um sorriso de satisfação ao comentar o aumento do número de personagens gays na programação atual. Aos 34 anos, o ator — homossexual declarado — lembra que, na sua época de adolescente, sofria ao ligar a televisão e se deparar sempre com os mesmos estereótipos.
— Todos os gays, especialmente em dramas, tinham o vírus HIV. E era desanimador pensar que aquilo poderia ser o futuro da minha vida. Acho que o caminho começou a mudar com séries como “Will & Grace” — analisa.
Esse crescimento e, principalmente, a não generalização dos tipos Andrew vem tendo a oportunidade de sentir de perto. Afinal, o ator, atualmente, pode ser visto em duas séries — “The new normal” (Fox, domingos, 13h) e “Girls” (HBO, domingos, 22h) — interpretando personagens gays quase opostos. Na nova empreitada de Ryan Murphy, exibida desde setembro do ano passado lá fora, Andrew é Bryan Collins, um escritor e produtor de TV. Confiante e bem-sucedido, ele se prepara para começar uma família com o marido, o ginecologista David Sawyer (Justin Bartha), com quem vive uma relação estável e feliz. Após conhecer Goldie (Georgia King), os dois elegem a garçonete como a mãe de aluguel perfeita para a criança que eles tanto desejam.
— É uma comédia familiar sobre um casal querendo uma criança. Uma história que envolve amor e temas sérios. E não preciso levantar bandeira, não tenho a obrigação de ser símbolo de nada — enfatiza Andrew.
Pela primeira vez ao lado de Murphy, ele se diz fascinado com a mente do criador de séries como “Nip/Tuck”, “Glee” e “American horror story” — as duas últimas no ar:
— Parece loucura. Mas são atrações tão diferentes, e ele faz tudo, e ao mesmo tempo, sem deixar que percam o sentido. E há o lado bom de ser dirigido pelo autor, porque você pode tirar suas dúvidas e dar sugestões, e ele tem a autoridade para fazer mudanças na hora.
Experiência parecida Andrew passou em “Girls”. Na série, seu début televisivo, o ator vive Elijah, ex-namorado de Hannah (Lena Dunham) e seu atual roommate. Em cena, é dirigido pela própria atriz, que ainda escreve e produz o programa. E, sim, Elijah é gay. Mas não poderia ser mais diferente de Bryan, Andrew afirma.
— Apesar de ambos serem divertidos, Elijah não sabe direito quem é, o que quer. Sua vida está uma zona. Não que ele seja bissexual, mas ainda está questionando sua sexualidade — analisa Andrew, que conta ter passado por um constrangimento ao gravar uma cena de sexo com Allison Williams, a Marnie de “Girls”:
— Sou o que chamam de gold star gay (em português, gay estrela dourada), nunca fiz sexo com uma mulher. Eu e Allison somos amigos, mas foi estranho porque estávamos nus, e meu personagem não foi legal com o dela.
Embora tenha conseguido conciliar bem os dois trabalhos — “Girls” é em Nova York e “The new normal”, em Los Angeles —, Andrew se despede das amigas do Brooklyn ainda nesta temporada.
— Eu não vou morrer, garanto. Mas eles brincam de ser adultos, e isso não vai acabar bem.