RIO - Passado o que, segundo o diretor artístico Alexandre Hovoruski, foi "a fase do reencontro", a Rádio Cidade 102.9 FM completou com boas notícias seu primeiro mês de volta ao ar, depois de oito anos operando exclusivamente na internet. Dado o crescimento de 45,45% na audiência medida pelo Ibope em relação ao dia 10 de março (data de sua reestreia na FM), a rádio rock carioca lidera hoje o segmento de público adulto-jovem (classe AB, entre 18 e 34 anos de idade) no Rio - é, no geral, a nona mais ouvida.
A comemoração desse resultado se dará no dia 22 de maio, com um show do Rappa na Fundição Progresso. Junto com a paulistana Kiss FM, que começou a operar no Rio em fevereiro, na frequência 91,9 FM (e hoje é a 35ª mais ouvida), a Cidade devolve ao público o rock que ficara praticamente ausente da frequência modulada.
Foi com o som de um coração parando que a Cidade saiu do ar em 2006. Sua militância no rock, de grande êxito a partir de 1995 (depois que a Fluminense FM encerrou atividade), já não tinha mais tanto impacto naquela época em que, segundo Hovoruski, "o mercado, como um todo, não andava bem".
- Apareceu uma proposta de filiação à Oi FM, e foi feita a opção de manter a Rádio Cidade apenas na internet. Uns seis anos depois, a Oi acabou, e a gente estava estudando voltar com a Rádio Cidade, quando veio a volta da Jovem Pan FM. Resolvemos arriscar nos filiar a eles, e a coisa não deu certo - relembra o executivo, que também é diretor artístico da JB FM (rádio que, junto com a Cidade, forma o Sistema Rio de Janeiro de Rádio). - Foi a volta da 89FM (emissora de São Paulo) ao rock (em julho de 2013) que nos animou a trazer a Cidade de volta à FM aqui no Rio. O barulho foi grande, vimos que dava para fazer aqui também.
Os seis anos na internet deram à Cidade algumas direções na volta à FM.
- Na web, para aquela turma que gosta da música mais pesada, criamos um botãozinho em que o ouvinte clica e a rádio entra em modo metal. O mesmo para o classic rock, o rock Brasil e o indie rock - diz Hovoruski, que aos poucos está espalhando os módulos com estilos mais específicos por diferentes horários ao longo da programação. - A interação é cada vez maior, o ouvinte avalia a música pela internet na hora. O que não dá, ainda, é para seguir apenas com a rádio na web. Se você pegar um streaming e sair andando, ele vai falhar várias vezes. Acho que se a FM mantiver sua localidade, seu companheirismo, ela durará muito tempo.
Foi uma mensagem no Instagram que disparou o processo de implantação da Rádio Cidade à FM, uma campanha centralizada mais tarde no site tavoltando.com.br.
- Em uma semana, a gente pulou de zero para 125 mil seguidores no Facebook. Havia uma estratégia para três meses, mas tivemos que executá-la em três dias - conta. - Chamamos as pessoas para ajudar a montar a rádio. Os ouvintes escolheram o artista que faria o show da volta (O Rappa) e a primeira música que ia tocar (empataram "Faroeste caboclo", da Legião Urbana, e "Smells like teen spirit", do Nirvana).
Uma versão rock da canção de Guilherme Arantes "O melhor vai começar", com as participações de Tico Santa Cruz e Marcelo D2, foi o agradecimento da rádio ao público que se mobilizou pela sua volta à FM. As primeiras semanas no ar viram o estúdio, no último andar de um prédio na Avenida Presidente Vargas, ser tomado por artistas que fizeram parte da história da Cidade. Tony Bellotto, guitarrista dos Titãs e colunista do GLOBO, era um deles.
- O alcance que uma rádio FM ainda tem é incomparável. Os sertanejos, que cresceram nesse tempo em que o rock ficou de fora, que o digam - analisa Tony, que foi alertado para a volta da Cidade pelo filho, Antônio, de 16 anos.
Apoiando-se numa agressiva campanha publicitária de TV e internet (em um filme no qual o funk, o axé e a dance music são expulsos do corpo de um pobre rapaz através de um exorcismo rock feito à base de guitarra), a Kiss FM não chega a ser, para Hovoruski, uma concorrente da Cidade no Rio de Janeiro.
- O estilo deles é outro - diz.
- Cada uma tem seu estilo e sua forma de ver o rock, e a Kiss FM atinge um público mais adulto e qualificado, pois enfoca mais nos clássicos do gênero - confirma Carlos Issa, gerente de operações da rádio no Rio, prometendo novidades para a emissora, que faz transmissão de São Gonçalo. - Após os primeiros relatórios de audiência decidiremos as possíveis mudanças locais.