RIO - Os jovens de cada época e de cada pequena comunidade do mundo são jovens à sua maneira, mas todos eles se parecem no que têm de impetuosidade e rebeldia, espírito de contestação e até mesmo na inclinação comum por gadgets e no gosto por fast food. Os fotógrafos da Magnum, a mais famosa agência de fotografia do mundo, fundada em 1947 por nomes como Henri Cartier-Bresson e Robert Capa, desde os anos 1950 registram a juventude do mundo nas mais diversas situações. É um recorte desse precioso acervo que poderá ser visto a partir de terça-feira (e até 1º de junho), no Oi Futuro Flamengo, quando será inaugurada a instalação multimídia “Community”.
A mostra que vai ocupar o quarto andar do prédio é composta de quatro grandes telas, nas quais serão projetadas, simultaneamente, séries de fotos sobre a cultura jovem, relacionando temas como rock, gangues e manifestações. Como pano de fundo, uma trilha sonora com The Who, Oasis, Buraka Som Sistema, Nirvana, Jimi Hendrix, Public Enemy e House of Pain, entre muitos outros. O tema é jovem, a música é jovem, o público-alvo é jovem — mesmo que seja o jovem que cada um já foi. Por isso, toda a projeção não leva mais de 16 minutos.
— É uma instalação curta, dinâmica, na medida certa para reter a atenção das pessoas — diz Emmanuelle Hascoët, diretora cultural e de exposições da Magnum e curadora da mostra, com André Holzherr e Barbara Auer.
Esta é a segunda vez em que “Community” é apresentada ao público. A primeira foi em setembro de 2013, num festival de fotografia em Manheim, na Alemanha, para o qual o projeto foi criado. Olivier Koechlin, que produziu o material, conta que a ideia era buscar em toda a base da Magnum (cerca de um milhão de fotos) imagens que girassem em torno do conceito de comunidade, de grupos de pessoas. Acabaram se atendo ao tema juventude, selecionando 150 obras.
A projeção é feita de forma cronológica. As primeiras imagens, de uma gangue no Brooklyn, feitas pelo americano Bruce Davidson, datam do fim dos anos 1950; em seguida, há fãs dos Beatles, em 1964, pelo inglês David Hurn; e hippies pelas lentes do americano Dennis Stock, do início da mesma década. Continua com registros do festival de Woodstock e outros de música do período, como em Venice Beach, na Califórnia. Há protestos contra a Guerra do Vietnã, manifestações em maio de 1968 na França, capoeiristas no Brasil (de Miguel Rio Branco, único brasileiro na seleção), até terminar com imagens de Martin Parr no Japão, em 2012, do fenômeno cosplay, jovens que se vestem como personagens de desenhos animados ou que se fantasiam de forma bizarra. No meio disso tudo, fotos de lanchonetes, grafites, hip-hop, manifestações na Irlanda do Norte, protestos em Pequim, jovens falando muito ao celular.
— É uma maneira de contar a história do século XX de um determinado ponto de vista. Através do comportamento e do engajamento dos jovens, falamos de vários momentos importantes — diz Emmanuelle.
“Community” é o terceiro projeto coletivo da Magnum, e, segundo Emmanuelle, uma nova maneira de mostrar o trabalho da agência, que representa hoje o trabalho de 80 fotógrafos, incluindo os já mortos, e tem sedes em Paris, Londres e Nova York. Os outros dois foram uma edição comemorativa dos 60 anos da agência, em 2007, no Rencontre Photographiques d’Arles, na França, com 5 mil fotos, que o público podia selecionar por temas ou fotógrafos em jukeboxes, e o segundo, “Magnum Fashion”, só com registros de moda. Na projeção de “Community” no Oi Futuro, além dos fotógrafos já citados, há imagens de René Burri, Marc Riboud, Abbas, Raymond Depardon e Bruce Davidson, entre muitos outros.
Gângsteres russos e rituais vodu
Complementando a mostra, no quinto andar do prédio cinco monitores exibem, cada um, uma espécie de trabalho solo de um fotógrafo da agência, parte do projeto Magnum In Motion. E que trazem em si, diz Emmanuelle, a ideia de pequenas comunidades.
— São quase minidocumentários, com no máximo cinco minutos de duração — explica ela. — Têm uma narrativa, mas não como uma edição de jornal. Permitem ao fotógrafo se posicionar como narrador.
O primeiro deles, “Capitolio”, do canadense Christopher Andersen, é um bom exemplo do que diz a curadora. O fotógrafo acompanhou a campanha de Hugo Chávez na Venezuela, registrou o movimento nas ruas e acrescentou, na edição, a letra do hino nacional do país e trecho de um discurso do presidente, terminando o trabalho com uma frase do mártir da independência cubana José Martí. Dois tratam do Brasil: “Réquiem do samba”, do italiano Alex Majoli, e um slide-show intitulado “Brésil par Bruno Barbey — 1966 a 2008”, do fotógrafo francês. “Entre cielo y tierra”, da espanhola Cristina Garcia, reúne, num mesmo trabalho, fotos de rituais religiosos no Haiti, peregrinos na Espanha e um encontro pornográfico nos Estados Unidos, em edição e trilha sonora eletrizantes. Por último, o americano Bruce Gilden apresenta seu “Picnic with Sergey”, um ensaio de apenas dois minutos com um grupo de mafiosos russos decadentes, narrado por ele mesmo com humor cáustico. Ao todo, a exposição, gratuita, reúne 274 fotografias de 43 profissionais.