Lançador de tendência, formador de opinião, sinalizador de modas... Neymar pode ser entendido dessa forma por seu fenômeno da multiplicação de dancinhas (ou pelo moicano que celebrizou sua imagem ainda na era Santos). As coreografias do jogador, porém, não são movidas pelo marketing — ou melhor, até são em alguma medida indireta, mas o marketing não está ali como componente central. O fundamental ali é que ele é um moleque como outros tantos milhões pelo Brasil que bombam as estatísticas de visualizações no YouTube dos clipes dos artistas de neosertanejo, axé, arrocha, tchê music, funk ou qualquer outro gênero que atrai as massas. Mais que uma peça da engrenagem de divulgação, do mercado, Neymar é público.
Quando Neymar parece estar “lançando” uma música para o mundo, como se fosse dotado de um faro especial para identificar seu “potencial” como hit, o que ele está fazendo na verdade é se juntar a um coro gigantesco de pessoas que já celebra aquela canção como sucesso. Moleques como ele, que usam roupas parecidas (e se pudessem usavam as mesmas) e ouvem as mesmas músicas. A cada dancinha que gera curiosidade no coroa de classe média ou no garoto antenado com a cena indie mundial ou a vanguarda da MPB, Neymar está simplesmente abrindo uma janela para esse mercado ultrapopular e — cada vez menos — subterrâneo de milhões de neymares.
Há muito dinheiro envolvido aí. Mas, sem correr o risco de soar ingênuo, não é razoável pensar que é nele que Neymar mira quando dança. A dancinha é consequência do gol — e para os erês dos campos da linhagem de Neymar, o gol, independentemente das cifras, é prazer.
*Texto publicado em O Globo a Mais