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O conflito do Oriente Médio na telona

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TEL AVIV - Um dos azarões na categoria de melhor filme estrangeiro no Oscar deste ano, realizado amanhã, é o palestino “Omar”, de Hany Abu-Assad. Segundo críticos e bolsas de apostas, ele não deve levar a estatueta, mas, para os palestinos, já é um vencedor. Isso porque superou um filme israelense extremamente semelhante, “Bethlehem”, de Yuval Adler, que também concorria à nomeação, mas ficou de fora. Na guerra cinematográfica, desta vez, os palestinos levaram a melhor.

Os diretores se inspiraram na mesma manchete de jornal, sobre um jovem palestino que se torna informante do Exército israelense, e realizaram as produções quase ao mesmo tempo. Além disso, os filmes debutaram no circuito internacional com apenas uma semana de diferença e ganharam prêmios de peso (“Omar” foi premiado pelo júri popular na mostra “Um certo olhar” do Festival de Cannes de 2013, e “Bethlehem” levou o Leão de Ouro no Festival de Veneza também no ano passado).

Visões contrastantes

Tanto “Omar” quanto “Bethlehem” (“Belém”, em hebraico) contam a história de um palestino que é coagido a delatar colegas envolvidos em terrorismo ao serviço de segurança de Israel. Mas, apesar da premissa, os personagens ganham cores diferentes. Os pontos de vista quase opostos espelham a visão contrastante do diretor israelense Yuval Adler, de 44 anos, e a do palestino Hany Abu-Assad, de 52 — cujo filme “Paradise now” recebeu o Globo de Ouro em 2006 e foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro no mesmo ano.

Em “Omar”, os israelenses são mostrados como sendo extremamente ásperos e violentos, e os palestinos, como vítimas sem escolha. Já “Bethlehem” tem uma visão bem mais branda sobre as forças de segurança de Israel e um olhar mais crítico em relação aos palestinos. Além disso, enquanto “Bethlehem” é um filme de ação policial seco, “Omar” é, acima de tudo, uma história de amor (o delator se apaixona pela irmã do assassino de um soldado).

— Os filmes são muito diferentes em enredo e no tom — diz o crítico de cinema israelense Yair Naveh. — “Bethlehem” é um thriller tenso com elenco quase todo masculino e foco nas rivalidades políticas dentro de facções palestinas. Já “Omar” é um melodrama romântico, uma história de Romeu e Julieta sobre dois amantes separados pelo muro da Cisjordânia e por um ataque terrorista.

A escolha de “Omar” e não de “Bethlehem” levou alguns israelenses a acreditarem que Hollywood adotou a narrativa palestina sobre os conflitos Oriente Médio. Para o crítico de cinema israelense Avner Shavit, no entanto, a preferência não tem nada a ver com política, e sim com o caráter shakespeariano de “Omar”.

— Todos choraram aqui e se perguntaram: Por que eles e não nós? Mas há um motivo. Em “Omar” há uma história de amor. Há um personagem feminino real. Há um enredo romântico forte, pessoal, que não existe em “Bethelehem”. Isso acentua o drama e é emocionante.

A indicação de “Omar”, porém,causou irritação no governo israelense, porque o filme representa oficialmente a Palestina, nação que, para o Estado de Israel, não existe. Em 2012, a Assembleia Geral da ONU reconheceu o país como “Estado não observador”, mas o status não foi ratificado pelo Conselho de Segurança. A ONG israelense Almagor, que representa feridos em ataques terroristas palestinos, declarou a intenção de fazer lobby contra o filme, que, segundo a entidade, glamoriza a violência contra Israel.

Outra fonte de irritação entre os israelenses é o fato de que boa parte dos atores e da equipe de “Omar”, incluindo o diretor Hany Abu-Assad, é formada por cidadãos israelenses que se proclamam palestinos. As filmagens aconteceram na bíblica Nazaré, a maior cidade árabe de Israel, e não na Cisjordânia. Mas Abu-Assad diz que geografia não interessa, e sim o fato de que 90% dos US$ 2 milhões usados no filme foram provenientes de empresários palestinos.

O ministro da Cultura palestino, Anwar Abu Aishe, se disse orgulhoso da produção: “Ela conseguiu mostrar ao mundo nossos problemas sob a ocupação, nossa tragédia”, afirmou à mídia palestina.


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