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Patricia Kogut: 'Amor à vida' entra para a História da TV com beijo gay

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RIO - O primeiro beijo gay masculino na televisão britânica foi ao ar em “EastEnders”, em 1987, uma soap opera surgida em 1985 e em cartaz até hoje, com quatro episódios semanais. Houve muita controvérsia, mas na verdade foi apenas um selinho. Os britânicos tiveram de esperar mais dois anos para ver, na mesma produção, um beijo ardente e apaixonado entre homens. Só em 1994 chegou a vez das mulheres: foi na soap opera “Brookside”, do Channel 4. Até hoje, porém, beijos gays na Inglaterra, quando ocorrem, causam uma certa polêmica. Na televisão americana aberta (sem considerar a TV por assinatura), um beijo gay entre dois rapazes só foi ao ar em 2007, no folhetim da CBS “As the world turns”. É isso. Cada país tem o seu ritmo. No Brasil, o caminho foi aberto pela coragem de vários autores da TV Globo, que, durante anos, contribuíram muito para combater o preconceito contra a homossexualidade: não se pode deixar de citar aqui Glória Perez, Gilberto Braga, Ricardo Linhares e Aguinaldo Silva. Graças a eles, hoje, o beijo gay entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), em “Amor à vida”, embora impactante, não chocou, veio já maduro ou para uma sociedade madura.

Mas é, sim, um momento histórico para a nossa teledramaturgia. A cena foi o primeiro beijo gay na emissora líder, numa verdadeira instituição nacional: a novela das nove (antes, o SBT já tinha levado ao ar um beijo entre duas mulheres, em “Amor e revolução”, mas sem repercussão devido à baixíssima audiência). Foi decisiva a atual direção geral da emissora, a cargo de Carlos Henrique Schroder, que vem demonstrando ter consciência da necessidade de se fazer uma televisão afinada com o seu tempo. Uma TV contemporânea.

A cena quase final de “Amor à vida”, com Félix e Niko juntos e felizes, foi o desfecho natural de uma trama que tinha conquistado o país desde que o autor, Walcyr Carrasco, com sensibilidade, aproximou o ex-arquivilão de Niko. Walcyr me disse, em entrevista, que, a certa altura, se deu conta de que Niko “tinha se tornado a heroína” de sua novela. Foi mesmo. Mas isso não aconteceu de uma hora para a outra, foi uma construção que levou meses. Houve uma combinação de forças: os atores são ótimos e ganharam o coração do público com o brilho de suas interpretações.

Walcyr, para redimir Félix, o uniu a Niko, a melhor expressão do bom caráter em toda aquela enorme coleção de personagens de “Amor à vida”. Aliada a tudo isso, e muito importante, veio a torcida firme do público por esse par.

O último capítulo foi bem irregular. Mas o beijo representou um passo importante, um marco inegável. Que a cena seja a primeira de um tempo em que beijos entre os casais que se amam numa novela façam, como é tradição, parte de todos os desfechos, sem distinção. Valeu.


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