LOS ANGELES - A comparação é inevitável. “Looking” é o “Girls” da vez, em versão gay e deslocada para a costa oeste, mais precisamente São Francisco. A série que estreia neste domingo, às 01h30 na HBO conta a história dos amigos Patrick (Jonathan Groff), Agustín (Frankie J. Alvarez) e Dom (Murray Bartlett) e de suas aventuras românticas e sexuais pela cidade mais identificada com o movimento dos direitos civis dos gays nos EUA. Mas que o espectador não espere da atração, criada pela dupla Michael Lannan e Andrew Haigh, uma plataforma para grandes sacadas sociopolíticas.
— Como estamos tratando de gays nos dias de hoje em uma metrópole americana, não há nenhum personagem dentro do armário. Esta não é mais uma questão tão importante para este grupo demográfico nas grandes cidades — diz Haigh.
Patrick é o designer de vídeo game com rosto de bebê e um azar danado na hora de arrumar um parceiro. Agustín é o latino da segunda geração mas, longe do estereótipo do hispânico em busca de um green card, é um artista hipster que se muda para a casa do namorado e vive o paradoxo da afirmação do casamento gay versus a liberdade peterpânica associada ao estilo de vida de seus amigos mais próximos. E Dom é o amigo mais velho, às vésperas de virar um quarentão, sem carreira definida, personagem perfeito para a discussão do amadurecimento no universo gay.
Apesar de ter sido bem recebida pela crítica em geral, “Looking” levou uma alfinetada da poderosa Alessandra Stanley, do “New York Times”: “A São Francisco deles parece que foi afetada por uma bomba que só exterminou os heterossexuais”. De fato, os meninos de “Looking” parecem só se relacionar com gays, apesar de viverem em uma das cidades mais multifacetadas dos EUA.
Haigh, que durante anos fez parte da equipe técnica de Ridley Scott, assinou um dos filmes de relacionamento amoroso gay mais celebrado da década, “Weekend”, lançado em 2011. Já Lannan é o realizador de “Lorimer”, curta popular no universo gay americano que serviu de base para a série. Os personagens de “Looking” foram criados a partir de memórias de amigos de Lannan da época em que este viveu na cidade da Califórnia.
— Sabíamos que tentariam nos comparar com alguma série anterior. Além da versão gay de “Girls”, há o paralelo com “Sex and the city”. Acho que estamos fazendo algo diferente, centrado em homens de 30 e 40 anos. Mas há, sim, semelhanças, como o fato de a cidade ser o quarto protagonista. E não vou negar que ganharei meu dia se você me disser que eu sou a Carrie Bradshaw deste grupo — brinca o protagonista Groff, conhecido do público pelo perigoso Jesse St.James da série “Glee”.