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Fora dos padrões de beleza e com humor ácido, Lena Dunham é a nova menina-prodígio de Hollywood

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Nova York - Antes do início da entrevista, Lena Dunham pede um minuto aos jornalistas. Após cumprimentar a todos carinhosamente, ela se levanta da mesa, deixando lá um enorme copo de chá. Cinco minutos depois, volta:

— Me desculpem. Tomei muito chá e precisei urgentemente fazer xixi — ela diz, despertando risadas e empatia.

De cabelos curtinhos, terninho com short e meia-calça que imita uma cinta-liga, Lena faz aquele tipo gente como a gente. Ou quase isso. Aos 26 anos, se prepara para a estreia da segunda temporada da elogiada “Girls”, série da HBO escrita e dirigida por ela, que também vive a personagem principal, Hannah.

O programa conta, sem glamour, as agruras da vida de quatro garotas de 20 e poucos anos. Nascida e criada em Nova York, filha de mãe fotógrafa e pai pintor, Lena despontou na cena independente com o longa “Tiny furniture”. Com o seriado, ganhou os holofotes de vez — e também críticas, seja por ter tido uma vida considerada privilegiada por muitos ou pela falta de diversidade racial na série.

No entanto, por sua atuação na temporada de estreia, Lena foi indicada ao Globo de Ouro (veja na página 16) de melhor atriz de comédia, disputando com Tina Fey, Amy Poehler, Zooey Deschanel e Julia Louis Dreyfus. A série também concorre como melhor comédia.

— É um grupo incrível. São mulheres a quem cresci assistindo e fico honrada por estarmos todas juntas concorrendo pelo mesmo prêmio. É surreal! — empolga-se Lena.

Na segunda temporada, que estreia dia 20 por aqui, o realismo ainda dá o tom. Além das cenas de sexo, presentes em quase todos os episódios, há discussões sobre politica — Lena é democrata declarada —, racismo e homossexualidade. Leia a seguir o que Lena adianta sobre “Girls” e fala sobre sua vida e carreira.

O que você pode contar sobre a nova temporada?

Os personagens estão se aprofundando, correndo mais atrás do que querem. Algumas relações estão desabrochando, outras terminando...

Como você vê as comparações entre “Girls” e séries como “Sex and the city”?

Entendo essa comparação com “Sex and the city” e até com “Friends”. Todo mundo da equipe de “Girls” é fã de séries clássicas. E embora todas tenham Nova York como cenário e, em “Girls”, sejam quatro amigas assim como em “Sex and the city”, as pessoas viram que são programas bem diferentes.

As cenas de nudez e o sexo mostrado, sem glamour também chamam a atenção...

Em “Girls”, não há sexo por si só. O sexo mostra como as pessoas se relacionam, como se expõem; o sexo faz parte da construção daquele personagem. Não é só a nudez pela nudez. Quanto à falta de glamour... Acho que talvez vocês estejam fazendo um sexo mais glamouroso do que eu (risos).

Ao escrever os episódios, sente algum tipo de responsabilidade? Como se tivesse que servir de exemplo?

Quero mostrar às pessoas o que acontece de verdade. Não penso em ser um exemplo, mas, sim, em como sou sortuda por poder discutir na TV questões que não são comuns no universo televisivo. Quando você escreve um tweet ou coloca uma determinada fala no seriado, é claro que pensa em como isso pode repercutir, mas não pode deixar que isso iniba sua criatividade. Saber que as pessoas se identificam e se sentem menos sozinhas é muito significativo. Você tem que encontrar a linha tênue entre manter essa posição privilegiada e tentar continuar sendo livre como sempre foi.

Temas como casamento gay, política e racismo são abordados nesta temporada. Partiu de você explorá-los?

Não sei se o racismo é o assunto mais discutido nos Estados Unidos agora, mas nossa série não ignora a realidade, e essa é uma questão que está sempre na minha cabeça. Além disso, sempre quisemos ter o Donald (o ator negro Donald Glover, do seriado “Community”) na série.

Na história, o personagem de Donald e Hannah brigam porque ele é republicano e ela, democrata. E, há pouco tempo, um vídeo seu declarando apoio a Barack Obama repercutiu bastante...

O engraçado é que o vídeo sobre Obama gerou essa polêmica antes mesmo de o episódio ser criado. Fiquei surpresa. É tão ridículo... Quando você recebe críticas sobre seu programa, precisa levá-las a sério, mas quando é criticado por conservadores ferrenhos porque fez um vídeo de apoio a Obama, não dá para se importar. Mas não vejo problema em namorar um republicano, contanto que o cara certo apareça (risos). Seria um desafio para mim sair com alguém com convicções tão diferentes, mas eu sairia para jantar com republicanos.. E seria legal com eles (risos). Não poderia sair, por exemplo, com alguém que não acredita em casamento gay.

O que mudou na sua vida depois do início da série?

Bom, eu me mudei da casa dos meus pais em maio. E adorava sentar sozinha em uma cafeteria ou ir ao cinema e já não posso mais, porque tem sido complicado. Mas tento não mudar muito o que fazia.

Você já recebeu algum elogio que a surpreendeu?

É surpreendente saber que pessoas que amo veem a série e gostam. Sou obcecada pela (cantora) Taylor Swift e fiquei feliz de saber que ela gosta.

E quem você admira?

Woody Allen, Tina Fey, MC Darrison, Wim Wenders... E sei que há várias pessoas talentosas na minha geração, mas não me inspiro especificamente em nenhuma delas.

Falando nisso, no primeiro episódio, Hannah diz que quer ser a voz de sua geração. É como você se sente?

Essa fala não foi dita para ser levada tão a sério. É impossível, no mundo de hoje, generalizar e dizer que alguém é a voz de uma geração. Mas se posso iluminar a cabeça de alguém com minha visão sobre o que é ser jovem no mundo de hoje, fico feliz.

Você já disse que o seriado tem bastante da sua vida. Ser constantemente confundida com Hannah incomoda?

Não, porque sei bem os limites. Quem me conhece sabe exatamente onde ela termina e onde eu começo. E tudo depende da situação. Às vezes acho que tenho tudo a ver com ela, em outros momentos penso que não poderíamos ser mais diferentes. Assim como eu, Hannah é muito livre para discutir qualquer assunto, mas eu gosto de ter um argumento embasado, enquanto ela fala o que lhe vem à cabeça. E não dá para ser assim.

Ver sua vida retratada na tela funciona como uma análise?

Sim, ver a própria história na tela é catártico, faz você refletir muito sobre a vida e tenho sorte por poder viver isso. Eu faço análise desde os 7 anos e acho que faz muito bem para a minha saúde mental.

E quanto à linha de esmaltes de “Girls”? Não acha curioso esse lançamento, quando o programa não é ligado à moda nem à beleza?

Há uma razão para lançarmos essa linha. O esmalte é uma tendência, algo legal para quem quer uma mudança rápida no visual sem gastar dinheiro. Não queremos entrar no mercado da moda, não seria do nosso interesse lançar uma linha de roupas numa loja de departamento, por exemplo. Até porque acho que uma linha de roupas que caem mal não venderia bem (risos).


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