RECIFE — Tristeza e festa, bem ao estilo do Rei do Brega, Reginaldo Rossi, que alegrava os bailinhos onde "se dançava bem agarradinho", cantando músicas que falavam de amores não correspondidos, da dor de cotovelo, das traíções, do mergulho na bebida para esquecer as paixões que tinham ido. Na manhã deste sábado, enquanto o corpo do artista era velado no plenário da Assembleia Legislativa, nas ruas que formam o quarteirão do Palácio Joaquim Nabuco, homens, mulheres, jovens e idosos, cantavam e dançavam os grandes sucessos do "rei".
A festa ficou ainda mais animada com a chegada do engenheiro eletrônico Luís Borba Cavalcanti à Rua da União, que passa atrás do prédio em que o corpo do artista ficou exposto à visitação a partir da noite de sexta-feira. “Todo mundo estava aqui cantando. Alguém no meio da multidão perguntou quem tinha som. Então ofereci o do meu carro, e coloquei os sucessos do Reginaldo. Pelo que conheço dele, deve estar gostando lá do céu de ver essa festa”, afirmou Luís, enquanto populares faziam um grande coro, com “Garçom”, “A raposa e as uvas”, “Recife, minha cidade” e “Ai,amor”.
O auxiliar de cozinha, Severino Rodrigues está de férias, mas disse que faltaria ao trabalho e até arriscaria perder o emprego para marcar presença na despedida do cantor. Só sai do velório, para o cemitério Morada da Paz, onde o corpo será sepultado à noite.
Aos 81 anos, Maria do Carmo Amorim da Silva, pegou dois ônibus para se despedir do seu ídolo maior.
— Estou com labirintite, mas não tinha como não vir. Sua morte deixou em pedaços meu coração, dizia, repetindo parte de um dos versos mais famosos do rei.
Enfermeira, Josilene Galvão saiu direto do hospital em que trabalha para se despedir do artista. Cantava e dançava o tempo todo.
— Essa é a melhor forma de fazer a ele nossa homenagem. Lembro dele bem jovem, cantando quando ainda usava calça boca de sino.Tenho quatro discos originais daquela época — contou.
O corpo do pernambucano será velado até as 15h (16h no Rio de Janeiro). Em seguida, o cortejo segue para o Cemitério Morada da Paz, que fica no município de Paulista, localizado a 15 quilômetros do Recife. No cemitério, está prevista uma missa de corpo presente, na capela central, só aberta para 200 pessoas, entre amigos e familiares.
O sepultamento será às 20h, e será disponibilizado um telão para que os fãs acompanhem sem atropelos a cerimônia. Por todo o sábado, foram grandes as homenagens espontâneas para o cantor. Em bares, mercados populares, nas ruas, a trilha musical era uma só, os grandes sucessos do artista, que tinha quatro décadas de estrada.
Na frente da Assembléia, entre lágrimas e aplausos, os fãs gritavam: "Ei, ei, ei, Reginaldo é nosso rei".
Reginaldo Rossi morreu de falência múltipla de órgãos, depois de lutar contra um câncer no pulmão, diagnosticado poucos dias após ser internado no Hospital Memorial São José, em Recife. Ele chegou ao hospital no dia 27 de novembro, após sentir dores no peito e dificuldades respiratórias. O cantor era fumante e gostava de beber, em rodadas regadas a violão com os amigos.