RIO - Como convém aos grandes artistas do folk-rock, o brasiliense Eron Falbo, de 28 anos, é um ser errante. Preparando sua volta para o Brasil, atualmente ele passa seus dias entre Budapeste e Londres. Eron viveu parte da infância nos Estados Unidos, estudou num colégio interno na Suíça e depois dos 18 anos transitou por Paris e Buenos Aires. De uma viagem de Los Angeles a Nova York acabou surgindo “73”, seu primeiro álbum como cantor e compositor, que teve como produtor o veterano Bob Johnston, homem por trás de discos de Bob Dylan (“Blonde on blonde”), Simon & Garfunkel (“Sounds of silence”), Johnny Cash (“At Folsom Prison”) e Leonard Cohen (“Songs from a room”). Perseverança, sorte, destino... Tem de tudo um pouco na história desse disco, que já estava disponível no iTunes e neste mês sai em CD no Brasil pela Pisces Records.
Quatro meses de conversas
Eron começou na música em Brasília como DJ e seguiu como cantor e guitarrista de uma banda de covers de blues e rock clássico, Os Julianos. Com eles, fez até uma temporada de shows em cruzeiros.
— Era como os Beatles em Hamburgo — compara Eron, que chegou a fazer 300 shows no ano que passou no navio.
Depois da dissolução dos Julianos, Eron partiu para a “jornada espiritual” pelos EUA. No caminho, parou em Memphis, Nashville e Nova Orleans. E se arriscou nas noites de microfone aberto dos bares. Num festival de folk em Memphis, ele conseguiu o contato de Bob Johnston Jr., filho do lendário produtor. Ligou várias vezes, sem sucesso. Um dia, em pleno inverno londrino, recebeu o retorno de Jr.. E o papo evoluiu.
— Ele me deu o telefone do pai e me desejou boa sorte — conta o músico. — Eu e Bob conversamos durante quatro meses. Ele não queria saber das minhas músicas até me conhecer. Até se eu acreditava em Deus ele perguntou.
Depois de finalmente ouvir suas músicas, Bob convidou o brasileiro para visitá-lo em Austin. E os dois logo acertaram o início das gravações do álbum, feitas em dois dias no estúdio Dark Horse, em Nashville, com o acompanhamento de velhos conhecidos do produtor, como o guitarrista Kerry Marx (que gravou com Cash, Dylan e Elton John) e o tecladista Shane Keister (Elvis Presley e Kris Kristofferson).
— As pessoas que eu escolho são destinadas à grandeza. E Eron se destaca nessa nova geração. Hoje, não há nada que soe diferente. Tem vezes que não dá para saber se é um garoto ou uma garota cantando — reclama Bob, de 81 anos. — Mas Eron não pode apenas fazer um disco, ele tem que ir atrás dos bares e clubes, fazer shows!
E o rapaz seguiu o conselho. Foi para Londres, “para começar do zero, usando o nome do Bob no que pudesse”. Montou uma banda, fez shows e, em 2011, gravou duas faixas, “I’ll be fine” e “I found out” (de John Lennon), no estúdio Konk, do líder do grupo The Kinks, Ray Davies. No mesmo ano, lançou um single, “Beat the drums”, pela Universal. Mas se desiludiu da gravadora. Seu foco agora é o Brasil.
— Vamos ver o que acontece — diz Eron, que prepara um projeto de poesia beatnik com música eletrônica e já pensa num segundo álbum, em português, com músicas suas e clássicos da MPB. — Se ficasse conhecido no exterior mas não no Brasil seria muito triste.