RIO - Fito Paez não tinha a menor ideia do nome que daria a seu novo disco, quando, já no fim da mixagem, com tudo praticamente pronto, surgiu uma canção. Apesar do nome e do tema não serem exatamente originais, ele hoje vê que era o que estava faltando: “Yo te amo” é o nome do novo disco do cantautor argentino, que veio ao Rio promovê-lo nesta semana.
— É um tratado sobre o amor aos 50 anos — define ele, olhando o mar de Copacabana do terraço do hotel. — Eu não planejo muito o que faço, vou compondo e gravando as canções e depois vejo o que fiz. Com “Yo te amo”, acho que defini bem o trabalho.
Ele gosta de estabelecer analogias entre música e cinema — eventualmente assina roteiro e direção de filmes de metragens variadas.
— É muito parecido — começa. — O diretor de fotografia é o técnico de gravação; a mixagem é como a edição, quando você pega o material registrado e usa o que tem de melhor. A principal diferença, acho, é que ao gravar um disco você não sabe muito bem o que tem em mãos até o fim, enquanto o filme tem um guión, um roteiro.
Depois de “Rodolfo”, disco de voz e piano de 2007 que o trouxe ao Brasil para shows pela última vez, Fito volta a assumir uma sonoridade pop, com teclados oitentistas, batidas dançantes e os refrãos contagiantes de sempre.
— Isso também não foi planejado, mas me diverti muito no estúdio, com Diego Olivero e Mariano López, meus coprodutores e músicos da minha banda — conta ele. — Eu gosto muito da produção de um disco, da parte técnica, de pensar coisas como: “Aqui, acho que o ideal é uma caixa de tantas polegadas, da marca tal, com um bumbo desse tamanho, captados por um microfone do tipo tal...”. É uma maravilha!
Depois de trabalhos com uma sonoridade mais sombria, em discos como “Naturaleza sangre” (2003), ele considera “Yo te amo” mais “solar”.
— Há momentos de densidade, mas é um disco mais positivo, e talvez mais pessoal, com referências a meus filhos, Margarita e Martín, e a minha atual namorada, Julia — diz. — É impossível fazer arte sem falar um pouco de si.
Fito diz que fez questão de vir promover o disco no Brasil — ele é um dos poucos artistas do pop latino com um público fiel por aqui —, além de prometer voltar para shows em 2014.
— O Brasil é muito importante na minha formação — afirma. — Meu pai tocava música brasileira em nossa casa quando eu era pequeno, em Rosario. Chico Buarque, que acho um dos maiores compositores de todo o mundo, Caetano e outros são referências muito importantes para mim.
Sem perder o bom humor, ele considera que os países hermanos estão em um bom momento, mas falta muito.
— Democracia é algo complicado, ainda estamos aprendendo — avalia. — Cada eleição realizada é um gol.