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Em busca de novos ambientes e desafios

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RIO — O que fazer quando a vanguarda ou o experimental se tornam linguagem hegemônica, quando a interdisciplinaridade se faz palavra de ordem nas artes, quando as zonas de fronteira se tornam o habitat seguro do criador contemporâneo, ou quando a manipulação e a colagem digital de imagens e sons se torna modus operandi? Ou ainda: como escapar ao uso vulgar da tecnologia quando ela é banalizada em tablets, aplicativos e celulares?

— Não é fácil... É difícil surpreender, se reinventar hoje em dia — diz Batman Zavareze.

Idealizador do Festival Multiplicidade, que inicia amanhã três dias de uma grande ocupação artística no Parque Lage, Zavareze passou os últimos dois anos formulando essas questões sem encontrar soluções imediatamente aplicáveis. O motivo de tanta indagação é que elas prenunciam uma espécie de autoanálise retrospectiva dele em relação ao evento que fundou e que completa dez anos em 2014.

— Completar uma década de apostas em caminhos não reconhecidos foi o maior desafio; agora é encontrar e mostrar algo diferente.

Surgido como um marco da união de música e imagens sob mediação tecnológica, o Multiplicidade invadiu o espaço audiovisual da cidade como uma espécie de óvni, mas hoje tem seu modelo reproduzido e referendado.

— Artistas, público e formadores de opinião que criticavam ou não compreendiam a proposta hoje defendem essa fronteira indefinida, essa zona nebulosa entre arte e tecnologia em que navegamos — diz Zavareze. — Com o avanço das tecnologias, a interdisciplinaridade passou de tendência para modo de conduta geral. O que era inusitado, estranho, se tornou comum.

Por isso tantas questões:

— Não quero ser facilmente compreendido, cair num estereótipo. Essa é a minha crise e o que me motiva a seguir adiante sem reproduzir velhas formas, sem pisar nos mesmos territórios.

“elemento de estranhamento”

Se a questão é mudança de território, a primeira resposta está dada: o Multiplicidade sai da caixa preta do teatro e promove o seu 5º recorte de 2013 numa ocupação artística ao ar livre. Após anos instigando artistas a experimentar procedimentos de criação num laboratório espacialmente controlado, agora o desafio é ver como esses criadores respondem ao espaço aberto.

— Agora, a gente abraça a tecnologia natural, o ambiente, a luz do dia, encara a natureza como elemento de estranhamento, como algo provocador, que gere tensão — diz. — A ideia é fugir da tecnologia pela tecnologia. Não a deixamos de lado, mas a fazemos trabalhar de outra forma. É um grande desafio, uma virada.

A ocupação começa às 10h, com um workshop sobre circuit bending (em que artistas modificam circuitos de aparelhos, como games, para fazer música) e arte sonora, com Barry Cullen (Irlanda) e Cristiano Rosa. Eles irão reciclar eletrônicos descartados e construir instrumentos audiovisuais a serem usados numa instalação sonora no sábado. Nela, Cullen e Rosa acompanham o músico Arto Lindsay, que vai controlar 15 monitores de áudio espalhados ao lado do casarão do parque. Também no sábado, a obra “Chamada ao trabalho — Belfast” será instalada na entrada do prédio. A criação de Pedro Rebelo, Matilde Meireles, Ricardo Dias, Rui Chaves e Aonghus McEvoy poderá ser fruída das 10h às 22h, assim como a instalação “Árvores sonoras”, de Bartolo. Criada em meio a uma trilha, a obra vai aplicar pequenos alto-falantes nas árvores do caminho, criando uma escultura sonora que aposta na simbiose entre espaço natural (floresta) e aparatos artificiais (emissores de som mecânicos). A conjunção entre tecnologia e natureza também será o habitat da principal atração do evento, o selo visual AntiVJ, que apresenta a sua mais recente criação, “Onion skin”, no platô externo localizado atrás do casarão.

— É uma instalação hipnótica que altera nossas perspectivas através de variações de linhas geométricas. É uma obra “indoor” que será integrada à natureza, sem paredes ou telhados. Eles trabalham com arte digital de ponta, softwares exclusivos.

Já no domingo, além de nomes como o espanhol Joan Fontcuberta, o atrativo é o encontro entre Taksi (João Brasil e Domenico Lancelloti) e o artista visual britânico Gary Stewart, que pretendem orquestrar uma espécie de desconstrução da bossa nova em “Bossa not bossa”.

— Eles vão usar samples de bossa nova como fonte para improvisações, enquanto eu vou explorar o conceito de “Desafinado”, fora do tom — diz Stewart. — É uma espécie de desafio criativo, que nos serve para questionar qual é o lugar do Brasil no mundo de hoje.

Programação:

Sábado:

A entrada do casarão recebe a instalação “Chamada ao trabalho”. De 10h às 22h. Também no domingo.

Bartolo apresenta “Árvores sonoras” na trilha da Capelinha. De 10h às 22h. Também no domingo.

Curadores nacionais e internacionais participam do painel “Festivais internacionais de vanguarda”. De 14h às 17h.

Artistas da Rio Occupation London como Domenico Lancelloti, Felipe Rocha, Christiane Jatahy, Paulo Camacho e Anna Azevedo apresentam trabalhos a partir das 17h. Heleno Barnardi mostra a instalação “Enquanto falo, as horas passam”.

Arto Lindsay, Barry Cullen e Cristiano Rosa fazem uma performance ao vivo na Rua 2 do parque. Das 19h às 19h40m.

O espanhol Joan Fontcuberta mostra “Through the looking glass: cameras and mirrors” no terraço do casarão, às 20h. Também no domingo.

O selo AntiVJ apresenta “Onion skin” ao vivo, às 21h. Instalação: 21h20 às 23h. Também no domingo.

DJ set com Diogo Reis (MOO), às 21h30m; e Jonas Rocha, às 23h30m.

Domingo:

Bmind, Opala, Nuvem e El Timbe fazem a performance “Picnic”. Das 12h às 19h.

Franklin Cassaro mostra “Ocaoca”, 15h.

Taksi e Gary Stewart apresentam “Bossa not bossa” no salão, às 20h30m.

DJ set com Tate Collective, às 19h30m; e com Wladimir Gasper, às 21h30m.


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