RIO — O estêncil de um menino fazendo xixi no muro do Batalhão de Choque da Polícia Militar causou burburinho em Fortaleza nesta quinta-feira. A cidade está recebendo nesta semana o um festival de arte urbana e o artista inglês Banksy confirmou presença há algumas semanas. Mas Narcélio Grud, artista urbano e idelizador do Festival Concreto, não acredita que o grafite, que já foi apagado, seja de Banksy.
— Ele falou que viria, mas não informou dia nem hora que chegaria. Eu acredito que ele não chegou ainda. O que foi feito na rua parece muito falso. Não é dele. Acho que é a galera aproveitando o bafafá e querendo fazer movimento.
Yesterday, everyone was asking if this was the first Banksy in Latin America - at a wall in Fortaleza, Brazil pic.twitter.com/ncaXn4BTCQ
— Kety Shapazian (@KetyDC) November 22, 2013
Para Narcélio, o trabalho de Banksy é “mais politizado do que um menino fazendo xixi no quartel do batalhão”. Além disso, ele desconfia da assinatura, que deveria atestar a autenticidade da obra, mas teve o efeito inverso, pois “há muito tempo ele não assina nada”.
— Estamos todos na expectativa. Como o festival tem apoio governamental e o Banksy é um artista político, acredito que ele possa chegar depois. Faltando um dia pra termina, nossa esperança é essa — diz o organizador.
Narcélio conta que entrou em contato com Banksy por email, graças a um artista paulista que conseguiu o endereço eletrônico por ter participado em um evento em Londres onde Banksy também expôs. Eles enviaram uma longa mensagem argumentando que ele deveria vir aqui para conhecer a condição social da América Latina.
— Ele falou que viria depois de muitos emails trocados. Todas as respostas dele eram "fale mais", "conte mais", "interessante", sempre respostas curtas — diz. Na última mensagem, Banksy confirmou que viria, mas não precisava de nenhuma ajuda, passagens, hospedagem, nada.
Narcélio admite que o nome de Banksy “criou um fervor” e “de certo modo foi legal pela visibilidade”. Mas ele lamenta que tenha ofuscado a presença dos outros artistas e “outras coisas que estão sendo bem mais importantes para a cidade”. Narcélio cita como exemplo uma intervenção no Farol do Mucuripe, um prédio do século XIX, tombado pelo governo estadual, que está abandonado. Três artistas criaram polêmica na cidade ao grafitarar o farol, mas o trabalho acabou chamando a atenção para o abandono do lugar.
— O prefeito da cidade já se pronunciou dizendo que há um projeto de revitalização para toda aquela área que está abandonada — comemora ele.
Além dos locais, estão na cidade também 10 artistas de outras cidades do Brasil além de sete estrangeiros, entre eles Poeta, da Argentina; Loomit, da Alemanha; e Borondo, da Espanha. No sábado, último dia, todos os artistas estarão num mesmo ponto da cidade pintando. Com shows, projeção das obras criadas durante essa semana.
— Acredito que esse festival já é um marco da arte urbana no nordeste, puxando uma visibilidade que está sempre focada no Sudeste, em São Paulo principalmente. E São Paulo bebe muito da cultura nordestina. Os estrangeiros foram visitar o Museu da Memória da Cultura Cearense e todos saíram comentando como aquilo lembra o trabalho dos Gêmeos. São Paulistas e usam a cultura nordetina como inspiração para o trabalho.
No Facebook do evento (http://www.facebook.com/festivalconcreto) é possível ver imagens de várias intervenções feitas pelos artistas convidados do evento na cidade.