Quantcast
Channel: OGlobo
Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716

Sérgio Britto, um titã na bossa

$
0
0

RIO - Esses Titãs são mesmo radicais. Depois de “Polícia”, “Bichos escrotos”, “Clitóris” e “Desordem”, Sérgio Britto — logo ele, que parecia o mais quieto, autor da baladona “Epitáfio” — chutou o balde de vez: lançou um disco solo chamado “Purabossanova”.

— É o gênero da música brasileira com que mais me identifico — diz o cantor e tecladista de 54 anos, o único titã nascido no Rio. — Já faço muito rock com os Titãs. Nos meus discos solo tento imprimir uma sonoridade diferente. Queria mostrar uma brasilidade mais explícita, já tinha me aproximado disso no meu disco anterior, “SP55”.

Ele é o primeiro a dizer que a bossa nova do CD não é pura, apesar do nome.

— Ela é pura no sentido de que é a minha maneira de fazer, nada ortodoxa — diz. — Gostaria de lembrar um pouco mais a importância da bossa nova, na qual pouco se fala hoje em dia. É só MPB, rock, axé, sertanejo... É um gênero muito importante, que consagrou a música brasileira no exterior e influenciou até bandas pop dos anos 1980, como Style Council e Everything But the Girl.

Para incorporar de vez a bossa, Britto, o eterno titã dos teclados, teve que assumir o violão.

— Não podemos esquecer que o piano é o instrumento do Tom Jobim! — brinca ele. — Mas é verdade, eu me meti a tocar violão, acho que hoje até me saio bem. Na hora de gravar, deixo para um profissional mas tarimbado, mas tenho tocado nos shows.

Ele já levou “Purabossanova” à Miranda, no começo deste mês, além de São Paulo e Belo Horizonte. Tudo em meio aos compromissos dos Titãs, na cartilha “Tudo ao mesmo tempo agora”.

— Hoje em dia, gravar um disco é muito mais fácil, com a tecnologia — avalia ele. — Eu registrava algumas partes em casa, mandava para os músicos e para os meus produtores, Guilherme Gê e Emerson Villani, e íamos tocando adiante. Os shows é que são mais complicados, claro, porque a agenda dos Titãs é sempre cheia. E agora estamos preparando um novo disco, que devemos gravar em fevereiro de 2014.

Outra faceta dos trabalhos de Britto fora da banda que dá novamente as caras são as letras em espanhol, que ele grava desde 1994, quando lançou “Con el mundo a mis pies” com o trio punk Kleiderman, que formava ao lado do colega titã Branco Mello e da baterista Roberta Parisi. Filho do ex-ministro Almino Afonso, ele acompanhou o pai no exílio, vivendo por cerca de sete anos no Chile, onde foi alfabetizado, nos anos 1960. Em “Purabossanova”, ele canta “Lento”, sucesso da mexicana Julieta Venegas (também gravado por Érika Martins), “Canción para mi muerte”, do mito argentino Charly García, e, de sua autoria, “La momia inquieta (a canção)”. Nesta última, uma milonga tristonha, ele recebeu o auxílio da cantora Eugenia Brusa, do grupo argentino Les Mentettes, e do violonista uruguaio Toto Méndez.

— Vi um documentário sobre o cadáver de Evita, que tem uma história surreal, foi embalsamado, transferido várias vezes — conta ele. — Aí, resolvi compor uma música em espanhol sobre ele.

Em dueto com Eugenia, ele conta a saga do corpo deste mito da história argentina, enquanto ainda respirava e depois: “Desde que morreu/ Não haveria mais perdão/ Já não haveria paz/ Para Evita Perón/ (...) E mexeram em seu cabelo louro/ Mãos torpes e covardes/ Abusaram de seus lábios mudos/ Soldados e generais”.

— Acho que as músicas em espanhol são algo que me distingue, e é legal chamar a atenção para o pop latino, tão próximo a nós e tão pouco conhecido — diz ele. — Os versos foram saindo, e depois conferi com alguns amigos gringos, que deram o OK.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 32716


<script src="https://jsc.adskeeper.com/r/s/rssing.com.1596347.js" async> </script>