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Back2Black: Bobby Womack e tributo a James Brown fecham o festival

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RIO — A chuva forte que caiu no Rio de Janeiro ao longo do dia obrigou o festival Back2Black a realizar mudanças logísticas no domingo, terceiro e último dia de sua quinta edição. O cantor americano Bobby Womack, de 69 anos, que estava programado para se apresentar no Palco Rio, sob o pilotis da Cidade das Artes teve seu show transferido para a Grande Sala. E quem acabou pagando o preço da transferência foi a cantora Mart’nália, que abriu a noite na Sala com atraso de mais de uma hora. Ela entrou no palco ainda em meio aos ajustes técnicos e teve a estreia de seu show em homenagem a Vinicius de Moraes prejudicada por problemas de som e reduzida em sua duração para que o espaço pudesse acomodar três apresentações, e não só as duas programadas.

— O Bobby é um senhor que acabou de se recuperar de um problema de saúde, e como ventou o dia inteiro nós ficamos com receio de expô-lo a uma situação difícil — justificou-se a idealizadora e diretora geral do festival, Connie Lopes. — Corremos o risco de movê-lo para a Grande Sala e as dificuldades técnicas provocaram o atraso e os problemas de som. É o nosso primeiro ano na Cidade das Artes, ainda estamos conhecendo o espaço. Pretendo continuar nela no próximo ano. Aqui se respira, lá na Leopoldina (onde foram realizadas outras edições) ficávamos sufocados.

Com bom-humor e jogo de cintura, Mart’nália contornou os percalços de ter que acertar o som com público já na sala, e começou de fato o seu show por volta das 21h (ele estava programado para duas horas antes) com um medley de “Garota de Ipanema”, “Ela é carioca”, “Minha namorada” e “Eu sei que vou te amar”. Sem pose em meio ao caos (já que os problemas não foram de todo resolvidos), a cantora seguiu em frente com “Sabe você”, “Sei lá... a vida tem sempre razão” e “Samba da benção”, conquistando o público com sua interpretação despojada e moleque.

— Vinicius tem que ser tudo no improviso mesmo! — brincou Mart’nália em uma de suas várias falas ao longo dessa apresentação que teve que ser interrompida aos pouco mais de 20 minutos.

Por volta das 22h, depois da troca de palco, a Grande Sala foi tomada por Buika, cantora espanhola, filha de pais africanos, com tradição cigana estampada em sua música. Acompanhada por um pianista e percussionista, ela deixou claro, logo nas primeiras notas de “Mi niña Lola”, que a noite seria de fortes emoções. Latina e afro, intensa, de grandes gestos, dada a alguns gritos e com um canto tirado do útero, Buika arrebatou o público (e se deixou por ele arrebatar) ao passar por canções como “Santa Lucía”, “Tu volverás”, “Siboney” e “Se me hizo fácil”. Diva em ascensão na cena internacional, ela estreou no Brasil com o pé direito. E não será surpresa se voltar logo.

Uns 20 minutos antes da meia-noite, chegou a vez de Bobby Womack e sua banda. Nome de primeira grandeza do soul, que passou algumas poucas e boas (um câncer, inclusive) até de ter seu nome revivido pelo grupo Gorillaz, ele chegou ao Back2Black disposto a provar que estava bem vivo. Voz em dia, postura de entertainer intacta e cheio de vitalidade, Womack começou a noite atacando de hits como “Across 10th Street” e “Nobody wants you” – e logo foi aclamado.

Com um impressionante trio de vocalistas de apoio (entre elas, a sua própria filha, GinaRe), o cantor traçou em seguida alguns de seus clássicos românticos, como “I wish you didn’t trust me” e “That’s the way I feel about you”; prestou homenagem ao seu mentor, o cantor Sam Cooke (com uma tocante interpretação de “A change is gonna come”) e cantou a faixa-título de seu mais recente disco, “The bravest man in the universe”. Ficou para a extasiada plateia a impressão de ter visto, em pleno voo, um dos últimos exemplares da espécie dos soulmen verdadeiros.

Para quem, à uma da manhã de segunda-feira, ainda sobrara ânimo e/ou tempo para dançar, restou no Palco Rio a celebração ao grande mestre do funk, James Brown (1933-2006), promovida com categoria pela Banda Black Rio, com a participação de um dos músicos que ajudaram Brown a criar seu som: o saxofonista Pee Wee Ellis. Na festa, originalmente marcada para começar às 22h50, não faltaram sucessos (“Cold sweat”, “Soul power” e “Hot pants” do americano e a “Maria Fumaça” da Black Rio), e nem participações especiais como as do baixista Arthur Maia e dos cantores Ed Motta e Negra Li (que brilhou numa versão mais lenta de “I feel good”).

Bem entrados pelas duas da manhã (quando quase não havia público, apenas testemunhas do show), os convidados do tributo voltaram todos ao palco para uma “Say it loud (I’m Black and I’m proud)”, de James Brown: adequado número de encerramento para um festival dedicado à cultura negra. Pena que um pouco tarde demais para quem pega no batente na segunda...


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