RIO - Como em outros anos, a lista de finalistas do Prêmio Jabuti, divulgada na tarde desta quarta-feira pela Câmara Brasileira do Livro, tem pelo menos um livro que contraria o regulamento, e outros dois sobre os quais as regras do prêmio não são claras, mas que já são questionados.
Este ano, um dos problemas está na categoria tradução. Uma obra que não poderia ser escolhida para a final é o “Livro das mil e uma noites — Volume 4” (Globo Livros), traduzido por Mamede Mustafa Jarouche. Segundo o regulamento do prêmio, traduções em mais de um volume devem considerar a data de publicação do último deles — e só podem entrar se os volumes anteriores não houverem sido inscritos no prêmio. Mas o primeiro tomo da tradução de Jarouche para “As mil e uma noites” já havia sido premiado antes, na edição de 2006.
Outra obra que já questionada nas redes sociais é “Ficção completa”, de Bruno Schulz, lançado ano passado pela Cosac Naify, que tem Henryk Siewierski como tradutor. Dois textos da edição já haviam sido editados, nos anos 1990, pela editora Imago, pelo próprio Siewierski. “Sanatório”, saiu em 1994; “Lojas de canela”, em 1996. A edição da Cosac Naify tem textos inéditos, mas o regulamento do Jabuti afirma que só podem vencer “obras integralmente compostas por textos inéditos publicadas no Brasil.”
Mas a situação dela diante do regulamento não é clara. Procurado, Henryk Siewierski argumenta que refez a tradução dos dois textos.
— Propus uma retradução para a Cosac, praticamente, já que as duas traduções já tinham muito tempo. Inicialmente, a ideia era até aproveitar as edições, mas no fim as traduções tiveram muitas mudanças. Quando eu fiz as primeiras, estava há poucos anos no Brasil. Trabalhei com todo o texto original de novo — afirma Siewierski.
A Cosac Naify afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que o livro é “uma obra inédita em seu conjunto, pois além da tradução revista de ‘Lojas de canela’ e ‘O Sanatório’, foram acrescentados quatro contos: ‘O outono’, ‘República dos sonhos’, ‘O cometa’ e ‘A pátria’.”
Outro livro que começou a ser questionado é a biografia “Entre sem bater — A vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé” (Casa da Palavra), do jornalista Cláudio Figueiredo. O autor já havia publicado outra biografia do Barão, em 1988, pela Record: “O Barão de Itararé — As duas vidas de Apparício Torelly”. Mas o novo livro, explica o autor, é uma nova obra.
— Na introdução eu menciono o primeiro livro. Eu pensei em reeditar aquele livro, mas, passados 20 anos, minha cabeça tinha mudado. Graças à família, tive acesso a documentos pessoais e da polícia que eu não tinha na época. Vi que não era o caso de atualizar, mas de refazer tudo — afirma Figueiredo.
Procurada, a Câmara Brasileira do Livro, que organiza o Prêmio Jabuti, disse que só vai comentar o assunto na manhã desta quinta-feira. A Globo Livros, que edita, “As mil e uma noites”, também ainda não comentou o caso.