RIO - Para fazer um grande show num festival, um punhado de hits ajuda. Mas não basta. É fundamental a inteligência e a ambição artística para ir além da mediocridade e fazer mais que enfireilá-los. Nesse sentido, o show de Nando Reis no Palco Sunset, com participação de Samuel Rosa, beirou a perfeição. O ruivo estabeleceu desde o início um jogo de sedução com a plateia — note-se, totalmente aberta a ser seduzida — cadenciando o ritmo, dando a ela sucessos de apelo instantâneo e canções menos conhecidas, fugindo do caminho fácil do óbvio. E deixando claro, para quem ainda não percebeu, que ele é talvez o maior compositor de canções de amor de sua geração — e talvez o maior compositor, ponto.
Milhares de pessoas já gritavam seu nome quando Nando entrou no palco, acompanhado dos Infernais, com reforço de metais e backing vocals, para abrir o show com “Pré-sal”. Escolha precisa, porque a canção (de letra grande, não é um hit) pegou a plateia atenta e entregue — em outro momento talvez não funcionasse. E ela, ao listar o universo íntimo da formação de Nando (seu “pré-sal”, de imagens ligadas à infância), é um excelente abre-alas para o que viria.
E o que veio foi uma série de canções de amor, na poética única de Nando (que une versos diretos e metáforas enigmáticas), com o som energético dos Infernais — espírito rock’n roll old school de Neil Young, Rolling Stones (som no talo, mas os metais podiam ter um pouco mais de potência). Vieram “Sou dela”, “O que eu só vejo em você”, “N”, “Eu sei” e “All Star”, introduzida por uma linda homenagem na fala do artista:
— Costumo dizer que essa música é mais bonita quando tocada a céu aberto, porque ela foi feita para um estrela. As estrelas também brilham de dia, apenas não podemos ver sua luz por causa do sol. Claro que estou falando de Cássia Eller. Essa música é dedicada a ela. Queria que vocês me ajudassem a cantar sob a luz dessa linda estrela que é o sol.
A plateia atendeu ao apelo e foi sob o impacto da emoção de “All Star” que Samuel Rosa subiu ao palco. Nando disse que eles tocariam umas “diferentes”, fazendo a ressalva que “algumas delas vocês devem ter ouvido por aí”. Eles abriram com “Marvin”, lançada pelos Titãs, com direito a toque político no meio da canção, quando Nando gritou: “Todos aqueles que acham que a gente tem que fazer esse país ficar melhor levantem as mãos”. A série manteve o pique alto, com canções como “Onde você mora”, “Ali”, “Por onde andei” e “Segundo sol”. Com total domínio de seu ofício e de seu papel, Nando encerrou com “Do seu lado” — plateia pulando alto e feliz, pronta para o resto do dia.
Cotação: Ótimo