Na última vez em que vi Nick Payne, ele trabalhava na livraria do National Theatre. Avance quatro anos e ele acaba de se tornar o mais jovem vencedor do Evening Standard Awards, na categoria melhor peça, por “Constellations” — uma produção do Royal Court que se transferiu para o West End em novembro —, é o nome da vez para o ator Jake Gyllenhaal, que estrelou outra de suas criações na off-Broadway, em meados de 2012, e negocia com Hollywood adaptações cinematográficas para seus textos.
O sucesso pouco mudou Payne, de 28 anos. De óculos e jeito de rapaz bondoso, ele ri quando lembro nosso último encontro:
— Era ótimo trabalhar na livraria, porque, se havia uma peça que eu quisesse ler, bastava pedir e depois devolver à prateleira.
Claramente impressionado sobre como as coisas mudaram, Payne fala sobre o que o levou à Central School of Speech and Drama:
— Ao menos aquilo poderia me dar alguma coisa.
Como, por exemplo, “morar num apartamento horrível” com paredes cobertas de mofo por £ 90 semanais, pagas com trabalhos de arrumação no Old Vic e com as vendas na livraria. Nesse período, Payne escreveu cinco peças, estudava no Royal Court Young Writers Programme e teve o primeiro flerte com o sucesso com “If there is I haven’t found it yet” (2009), que lhe rendeu o George Devine Award.
— O meu agente inscreveu a peça no prêmio sem que eu soubesse — conta o autor. — Eu nunca saberia caso não tivesse ganhado.
Após outra de suas peças, “Wanderlust”, ser apresentada no Royal Court, o teatro lhe fez uma encomenda, que resultou em “Constellations”, um texto difícil de ser resumido, sobre um cosmologista e um criador de abelhas cuja relação abrange uma miríade de possibilidades a partir de teorias quânticas, em cenas que são contrapostas ao declínio da saúde de uma mulher. A peça foi bem recebida pela crítica, após um ano de trabalho árduo.
— Eu nunca havia tido nenhum patrocínio, e então o Royal Court disse para eu escrever o que eu quisesse, e me deram uma grana — diz ele, que recebeu £ 6 mil.
A encomenda foi bancada pelo então diretor artístico do Royal Court, Dominic Cooke.
— Ele dizia: “Arrisque, não fique em terreno seguro.”
Menos de 24 horas após entregar o texto final, ele recebeu os primeiros elogios.
— Cooke disse que ele era ótimo e que deveríamos montá-lo. Ele é muito confiante. No início não pegou de cara o que era a peça, acho que pelo modo como eu formatei certas referências.
Hoje, Payne não está integrado só à nata do teatro inglês. Ano passado, ele soube que Jake Gyllenhaal, astro de “Brokeback Mountain”, estava interessado em “If there is I haven’t found it yet”.
— Acho que, em Nova York, os atores chegam para os agentes e dizem: “Quero fazer uma peça, me envie o maior número possível de textos.” O que acontece é que temos o mesmo agente. Então, ele leu, gostou e veio assistir a “Constellations”. Foi bastante surreal.
Payne passou três meses em Nova York enquanto Gyllenhaal atuava em “If there is I haven’t found it yet”. Ele diz que se manteve à parte das decisões da produção, e apenas fez questão de manter as referências inglesas contidas no texto. Durante o período, Payne iniciou um novo trabalho para o Royal Court, que ele entregará nos próximos dias.
— Mas ainda não escolhi um título definitivo — diz.
Sobre seus projetos cinematográficos, ele desconversa:
— Não é que eu queira manter segredo, é apenas porque se trata de um momento ainda nebuloso, com algumas questões a serem confirmadas.
Mas depois cede e confirma: “Constellations” será, sim, transformada num filme.