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Fagner faz a festa de 40 anos de carreira no palco

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RIO - A possibilidade de disputar público com a diva americana Beyoncé em Brasília, mês que vem, não abala o cearense Raimundo Fagner.

— Pode mandar, não tenho medo de artista nenhum! — brada esse cantor e compositor com dezenas de sucessos (“Revelação”, “Borbulhas de amor”, “Noturno”, “Pedras que cantam”, “Coração”, “Espumas ao vento”), que faz sábado, no Vivo Rio (com ingressos esgotados), o seu show de 40 anos de carreira.

Aos 63 anos de idade, Fagner pode não ter mais aquela mesma presença nas rádios e TVs dos anos 1970 e 80. Mas segue fazendo shows por todo o país. E conserva suas opiniões firmes sobre o estado de coisas na MPB.

— Quem me segura é o povo, nunca achei que devesse recorrer a lei de incentivo. Lei é para quem não tem grande vínculo com a massa, pra artista que está começando. Eu tenho vínculo com a massa. No dia que isso acabar, em que o povo não me quiser mais, tô fora.

E o seu público, ele observa, tem lá alguns caprichos. Não gosta de ouvir sucessos em medley. E vive a pedir músicas que há muito ele não cantava. Por isso, no show, Fagner acrescentou “Canção brasileira”, “Quem me levará sou eu”, “Lua do Leblon”, “Paralelas” (do conterrâneo Belchior), “Pensamento” e “Beleza”, entre outras.

— As rádios ainda tocam as minhas músicas. Acredito que elas passam de geração para geração.

A comemoração dos 40 anos previa ainda o relançamento, pela Universal Music, de seu primeiro LP, “Manera frufru manera”, de 1973. Mas, como a gravadora informa, o projeto esbarrou na dificuldade de ter retorno da família da poeta Cecília Meireles, cujo poema “Marcha” inspirou a canção “Canteiros”. O relançamento depende da autorização dos herdeiros de Cecília.

— No fundo, é apenas o primeiro verso do poema que eu usei, depois é tudo meu — alega o cantor, que credita à polêmica sobre a autoria de “Canteiros” o fracasso comercial do LP (e o retardo no deslanchar de uma carreira que começara promissora, com o aval de Elis Regina e Nara Leão) — Além disso, na época, eu estava brigado com a (gravadora) Philips. Era a bola da vez, o maldito.

O sucesso, de verdade, viria em 1978, com “Revelação”, quando estava na CBS — segundo Fagner, “uma gravadora que andava à deriva depois do fim da Jovem Guarda”. Para lá, ele levou artistas nordestinos que posteriormente estourariam, como Amelinha, os primos Zé e Elba Ramalho e Robertinho de Recife.

— Eu cresci ouvindo rádio popular e nunca deixei de querer que a minha música tivesse um destino maior. Claro que havia um movimento poético e político muito forte, mas eu queria a rádio AM — conta ele, que dali em diante viveu uma década inteira de sucessos.

Foram tempos em que Fagner gravou Sullivan & Massadas (“Deslizes”) e uma versão de música do cantor dominicano Juan Luis Guerra feita pelo poeta Ferreira Gullar (“Borbulhas de amor”).

— Um dia eu acordei com essa música na cabeça, não conseguia pensar em outra coisa. E aí liguei para o Gullar, porque era a única pessoa que poderia fazer a versão e que não ia ser pichado — lembra o cantor, hoje alheio às patrulhas ideológicas. — Esse negócio de ideologia na música brasileira já acabou faz tempo, foi junto com o PT.

Livro sobre futebol

Depois de um disco de inéditas “muito elogiado pela crítica, mas pelo qual a gravadora não fez nada” (“Uma canção no rádio”, de 2009), o cantor planeja lançar mesmo é um livro com suas histórias nos campos, “Fagner, futebol e arte”, que prepara junto com os escritores Marcos Eduardo Neves e Xico Sá. Disco, no máximo, um que vem prometendo fazer com Zé Ramalho, com regravações e inéditas. A MPB, para Fagner, se move dentro de um “quadro nebuloso”.

— Ninguém sabe que mar é esse, não existe parâmetro ideológico, crítico. A pessoa escuta e, se gostou, gostou — diz. — Mas há artistas. O Zeca (Baleiro, seu parceiro) é um. Em nível autoral, tem o Arnaldo (Antunes). Em nível de som, o Lenine. Entre as cantoras, a que me chama mais a atenção é Tulipa Ruiz. Não tem como aquela menina não saber que ela é um avião! Mas, no geral, falta qualidade de repertório. Não há mais cantoras preocupadas com os autores, nem autores preocupados com as cantoras. Há coisas boas, mas elas estão desencontradas.


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