RIO - Vivemos na era do compartilhamento. Tudo o que uma empresa ou pessoa quer quando publica algo numa rede social é ver seu post se multiplicar no universo virtual. E por que as pesssoas curtem ou retuitam qualquer coisa? Há algumas respostas, segundo o especialista Thum Thompson, redator na Agência Click/Isobar e criador do Ossobuco, evento de criatividade que acontece em Brasília. Para ele, esse comportamento faz parte da natureza social do ser humano, de interagir e realizar trocas.
— As crianças, quando bem novas, costumam ser egoístas. Não têm vontade de compartilhar. Se você lhes tira um doce, elas choram, dão chilique. É um comportamento bem possessivo. Mas os estudos mostram que, a partir dos 7 anos de idade, as crianças já começam a enxergar mais algumas vantagens através do compartilhamento. Elas veem que isso pode dar em alguma coisa — afirmou Thompson, durante palestra no YouPix.
Segundo o redator publicitário, as áreas do cérebro ativadas durante o ato do compartilhamento são as mesmas de quando se faz sexo, come algum alimento gostoso, sente alegria. O prazer, então, seria equivalente.
— Os antropólogos dividem o compartilhamento humano em três tipos: por dominação, quando não se tem uma opção, como estar em uma cinema ou usando o transporte público, obrigado a compartilhar aquele espaço com quem tem interesses comuns; por comunhão, quando se está em casa, com a família e se divide a comida; e por reciprocidade, que é a base do comércio, a questão da troca: eu lhe dou dinheiro, e você me dá o seu produto — listou Thompson.
Contudo, Thum Thompson ainda citou outros fatores, como questão de sobrevivência, compartilhar bons restaurantes, boas opções de viagem etc. Além disso, os descontos online também incentivam as pessoas para o ato do compartilhamento.
— Uma pesquisa mostra que 40% que curtem a página de uma marca estão em busca de uma promoção, mas apenas 17% chegam a efetuar uma compra. No âmbito da marca, não é um público assim que se quer atrair. Você quer um público mais defensor do seu produto, mais engajado - disse Thompson.
O redator chegou a mapear três grandes grupos de motivo para compartilhar:
— Quando as pessoas estão se vangloriando, como quando ganham um prêmio ou acabam de ler tal livro. Elas querem mostrar o quanto são legais e atrair a atenção de outras pessoas, ganhando amigos e seguidores. Nem todo compartilhamento é para esnobar. Quando você dá o RT nisso ou curte aquilo, você quer dizer que também é cool, que também leu tal matéria. Quer que seus amigos saibam que leu primeiro. Por exemplo, as fotos da Nana Gouveia no furacão renderam três dias de compartilhamento sobre o assunto, que pode estar velho, mas se você não compartilhar, você não é "cool"[legal].
De acordo com Thum Thomspon, as pessoas, por essa razão, gostam e costumam compartilhar vídeos engraçados, fofos, erotizados e de webcelebridades ou celebridades mesmo, como a paródia do ator Bruce Willis sobre a saga "Crepúsculo", para divulgar seu novo filme "Duro de matar 5".Thompson relacionou a preocupação ser "cool" à notícia da morte do arquiteto Oscar Niemeyer. A Coca-Cola aproveitou o momento para divulgar uma campanha publicitária, prestando uma homenagem a Niemeyer.
— Você não quer simplesmente compartilhar fatos. As pessoas querem compartilhar sentimentos. É muito difícil fazer isso em 140 caracteres. Você valida um post que concorda com um clique de compartilhar ou curtir. Então, muitas vezes, compartilhamos imagens e vídeos que transmitam o que estamos sentindo. Você quer prestar um homenagem para Oscar Niemeyer, mas não quer ser piegas. A Coca-Cola conseguiu expressar esse sentimento. A marca estava na imagem sem incomodar e obteve sucesso — conclui Thomson, que propõe que o Facebook lance o botão "hugs" (abraços) para os posts de notícias tristes, já que usuários das redes sociais têm o hábito de compartilhar sentimentos negativos em busca de apoio e acolhimento e que o botão de curtir não combina com conteúdo dessas mensagens.