RIO - Para Josafá Filho, fama não representa sucesso. Muito menos tem a ver com o “fazer arte”. Se a lição já foi assimilada há tempos pelo rapaz de 28 anos, Filipinho, seu personagem em “Sangue bom”, vem aprendendo na marra. Na trama das 19h, o filho de Rosemere (Malu Mader) e Perácio (Felipe Camargo) saboreou a popularidade instantânea após ficar conhecido na internet com um vídeo em que canta funk.
Sob a alcunha de “Famosinho da Casa Verde” — uma referência ao bairro onde Filipinho mora —, ele conhece os dois lados da moeda. Ao mesmo tempo em que sofre bullying por causa da produção, é convidado a participar de um seriado teen e tem que lidar com as muitas namoradas que lhe são arrumadas. Mas, na faixa dos 20 anos, começa a ver que talvez não esteja tão confortável assim na própria pele.
— Ele começou como um garoto ingênuo e está virando homem. Essa aproximação do pai está o deixando mais amadurecido. Filipinho está descobrindo a vida afetiva, se descobrindo e se percebendo — analisa Josafá.
Entre as tais percepções, está o fato de que sente atração por outros rapazes. Não que Filipinho tenha aceitado a realidade de primeira. Mas, ao saber do real interesse de Peixinho (Julio Oliveira), ele fica cada vez mais instigado.
— Acho importante que a novela mostre o quanto ele se sente inadequado. Essa sensibilidade, que mistura um orgulho e uma vergonha, tem que ser discutida na TV. Eu torço para que ele seja feliz e se encontre no mundo. O fato de ele poder se assumir gay talvez seja a discussão — espera Josafá, que não sabe se vai rolar o tão comentado beijo gay. — A TV é o reflexo da sociedade. E acho que a sociedade está se transformando. Se ainda não aceita totalmente, pelo menos está mais madura para discutir questões como o casamento gay e o aborto, por exemplo — argumenta.
O personagem só vai assumir seus sentimentos nos capítulos previstos para o fim do mês, quando terá uma conversa emocionante com a mãe sobre sua sexualidade. Embora aceite a opção do filho, Rosemere fica com medo que o rapaz sofra ainda mais preconceitos.
— Ele é superprotegido pela mãe, jogado no mundo da fama e começa a perceber a maldade. Mas ao mesmo tempo em que você protege, impede que o outro conheça novas realidades — diz o ator.
O drama real de Filipinho, conta Josafá, já lhe rendeu uma porção de novas solicitações de amizade no Facebook. O ator também é constantemente parado na rua, por pessoas compadecidas com o bullying sofrido pelo personagem.
Já Josafá faz questão de manter laços com os amigos de infância, a quem costuma receber em sua casa, no Rio.
— A máquina da fama pode nos engolir se não tivermos estrutura — justifica.
Ao contrário do personagem, ele diz nunca ter tido dúvidas sobre o que queria. Aos 10 anos escrevia seus próprios textos e construía cenários com a ajuda do pai, marceneiro, em Franco da Rocha (SP), onde nasceu. Aos 17, entrou para uma escola de teatro e fez faculdade de dança. Atualmente, além de atuar, tem uma banda performática, a Devas, que mescla música eletrônica, novas mídias, poesia, dança e teatro.
— O reconhecimento é bom do ponto de vista financeiro. Mas o olhar econômico nada vale se é vazio de poesia, desejo e sonho. E sou sonhador. Gosto da possibilidade de transformar e causar uma mudança na percepção. É isso que estou fazendo na novela e venho sentindo o retorno — diz ele, que trabalhou também em “Ti ti ti” como o dr. Eduardo.
Após fazer um mapa astral, Josafá conta que passou a ligar mais para a astrologia. Agora, por exemplo, sabe que vive um momento de “maturidade artística e pessoal”. E cada vez mais à vontade com quem é.
— Estamos sempre em evolução, percebendo os encontros transformadores — filosofa.