RIO - “A primeira edição, em 2011, foi esplendorosa, mas a feira cresceu muito na segunda (em 2012), e tivemos probleminhas de produção”. Quando diz “probleminhas de produção”, a diretora da ArtRio Brenda Valansi se refere à dificuldade de controlar o público — foram 74 mil visitantes, quase 15 mil pessoas por dia —, o que levou galerias estrangeiras a cercar ou até fechar mais cedo seus estandes, temendo danos às valiosas obras.
Agora, na terceira edição, marcada para 5 de setembro, a ArtRio vai limitar o número de visitantes a 12 mil pessoas por dia, ou seja, terá, no máximo, 60 mil pessoas nos cinco dias de funcionamento (48 mil para o público em geral e o restante para convidados). Tudo neste ano parece ter sido pensado para acalmar os temerosos galeristas, que se queixavam frequentemente na feira do ano passado.
— Quando está muito cheio, ninguém consegue ver nada, as galerias ficam estressadas, porque é realmente um volume de gente muito grande. Tivemos excesso de visitantes, mas o problema não é o público em si... A gente quer que o público vá, que a pessoa que não é compradora vá. A ArtRio tem esse cunho também, um pouco cultural e social, e a gente quer ter sempre — diz a diretora, que em seguida pondera. — Só que se chegou a um limite que ficou até meio perigoso, muita gente... Para que fique confortável para todo mundo, limitamos e lançamos a venda antecipada de ingressos (no site ingresso .com, desde a última segunda).
Obras e custos milionários
No percurso para melhorar a imagem no meio e assumir o que Brenda chama de “padrão internacional”, a feira contratou João Paulo Siqueira Lopes para o cargo de diretor de relacionamento com as galerias, posto que já ocupou na Fiac, a feira de arte de Paris. Aqui, Lopes criou uma “private view room”, sala fechada para negociações de cifras, digamos, obscenas, e organizou desde a distribuição de galerias nos armazéns até a sinalização da feira. Quem for à ArtRio verá placas alertando para não tocar nas obras ou avisos para não comer dentro dos armazéns.
Ainda na tentativa de organizar a feira internamente, o evento terá, em cada um dos cinco armazéns, a figura de um “prefeito”, adianta a diretora. Com dois assistentes, ele será responsável por ouvir e atender as demandas das galerias daquele espaço. Mas a principal mudança (para o público e para as galerias) talvez seja na ordem de apresentação das casas no Píer Mauá.
Se no ano passado as galerias jovens (com até cinco anos) ficaram no último armazém — espaço que acabou ganhando o apelido de “favelinha” nos bastidores, com obras expostas à chuva e até danificadas por pássaros —, nesta edição elas foram enaltecidas: sua área terá o nome de Vista, e elas estarão no segundo armazém da feira, aos olhos do público, já na entrada do evento. Lá também ficará o projeto Solo, com curadoria de Julieta Gonzalez e Pablo Leon de La Barra.
A redução no número de galerias (de 120 em 2012 para 101 neste ano) também é parte do plano para desafogar a ArtRio. A área total da feira aumentou (de 17 mil m² para 20 mil m²), e a equipe de organização saltou de seis para 20 pessoas. A estimativa é que as galerias devem levar para o Píer Mauá cerca de sete mil obras de arte. Os preços variam de R$ 5 mil a R$ 20 milhões. Entre as mais esperadas (e, provavelmente, mais caras) está um trabalho sem título, de 1945, de Alexander Calder, que será exibido (e negociado) no estande da Pace, estreante na feira.
O trabalho mais “delicado” da organização, segundo Lopes, é dispor as galerias nos pavilhões.
— Algumas querem o Armazém 3, porque tem piso de concreto; outras querem o 4, porque é mais perto da área VIP. É um trabalho diplomático, a montagem de um quebra-cabeças — diz ele. — Tentamos equalizar os armazéns 3 e 4 (onde ficam as galerias contemporâneas), considerando o histórico e o projeto de cada uma.
Assim, no Armazém 3, as gigantes White Cube e Gagosian são vizinhas das brasileiras Anita Schwartz e Fortes Vilaça, todas com estandes de 120 m² (o maior espaço disponível na feira). No quarto pavilhão, estão três estreantes na feira — Pace, Gladstone e Marian Goodman — ao lado de, entre outras, Lurixs, Mendes Wood e Millan. Também faz sua estreia aqui a inglesa Victoria Miro, mais voltada para a pintura, “suporte que os colecionadores brasileiros adoram”, lembra o diretor de relacionamento da feira.
Nesta terceira edição, os sócios do evento (Brenda, Elisangela Valadares e os empresários do entretenimento Luiz Calainho e Alexandre Accioly) buscam mais dinheiro (via Lei Rouanet). Se na estreia, em 2011, pediram ao Ministério da Cultura autorização para captar R$ 4,3 milhões (e conseguiram R$ 1,98 milhão), agora apresentaram um projeto pleiteando R$ 9,4 milhões — mas o MinC autorizou “apenas” R$ 7,4 milhões.