RIO - Tema inesgotável na literatura, o sexo é a principal inspiração de um novo livro cujo título não deixa margem para segundas interpretações. “Tesão” é uma coletânea de contos e poemas escritos pelo roqueiro Tico Santa Cruz desde 2004. São fantasias e histórias reais do músico, casado há 12 anos com Luciana Rocha. Mas ele não revela quais são as verdadeiras e as falsas.
- Prefiro despistar o leitor, quero que ele fique curioso - sentencia.
Leitor ávido de textos sobre sexo, como “Trilogia suja de Havana”, de Pedro Juan Gutiérrez, Tico se debruçou sobre o tema depois do sucesso de seus contos eróticos no blog “Clube da insônia”, no qual escreve enquanto está na estrada com o Detonautas Roque Clube. Os pedidos por mais textos vieram aos montes - e a maioria, segundo Tico, era de mulheres.
- As mulheres usam mais a imaginação que os homens, que são mais visuais. Mas fujo da regra. Meu conceito de excitação, relacionado à fantasia, é muito conectado à literatura, a imaginar o que eu quero, e não baseado no que está exposto. Isso vem da revista “Ele/Ela”, da década de 80, que trazia fotos e cartas dos leitores. Eu sempre optava pelo segundo - explica Tico, que recomenda o disco “How the west was won”, do Led Zeppelin, como trilha sonora para a leitura de “Tesão”. - Jane´s Addiction e Black Keys também são boas opções.
Retorno inesperado
Os fãs de Tico e do Detonautas, claro, correram para as livrarias, atrás do livro, mas o vocalista viu também um retorno inesperado. E-mails de casais e mulheres que falavam sobre sua libertação sexual, ou da quebra de um tabu, falando sobre como a vida sexual melhorou depois de ler “Tesão”. O público também surpreendeu porque, além dos jovens fãs da banda, mulheres de mais de 40 anos curtiram a obra.
- Não sei se é porque está na mesma prateleira que “50 tons de cinza”. De qualquer forma, acho que o livro quebrou esse preconceito que liga minha personalidade exclusivamente ao público jovem - comenta o músico.
O cantor também avisa que “o livro não é para adolescentes de 12, 13, 14 anos”, pois tudo tem seu tempo certo.
- Não sou moralista. Mas, sinceramente, acredito que muito do comportamento da geração de hoje vem da falta de sensibilidade de se tratar o sexo como consciência e conversar com os filhos sobre o assunto - critica.
O músico ainda cita a polêmica que o grupo É o Tchan criou na década de 90, e comenta que chegou a fazer um trabalho sobre o tema quando cursou Ciências Sociais na UFRJ:
- Não coloco a culpa no artista, mas na superexposição de imagens que levam crianças a reproduzir o comportamento exibido. No caso do É o Tchan, não é a música que choca, e sim o fato de, às duas da tarde, haver mulheres se exibindo de maneira vulgar na TV, enquanto crianças assistem e os pais aplaudem.