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Anima Mundi: Filme relembra história da animação no Brasil

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RIO - Segmento do audiovisual em franca ascensão no Brasil — há cerca de dez projetos na área a caminho dos cinemas nos próximos dois anos —, a animação ainda padece do descaso com sua memória. Essa é uma das conclusões a que se chega com o documentário “Luz, anima, ação!”, de Eduardo Calvet, que repassa a trajetória do gênero no país, e teve première na sexta-feira, na 21ª edição do Anima Mundi. O filme tem sessão hoje, às 20h, no Cine Odeon.

A constatação retrocede às próprias origens da atividade no Brasil: assim como ocorreu com as vinhetas animadas que encerravam os cinejornais exibidos nos cinemas a partir de 1907, não restou um fotograma sequer do curta-metragem “O kaiser” (1917), do cartunista Álvaro Marins, considerado o marco zero da animação nacional. “As aventuras de Virgulino” (1939), primeiro longa de animação produzido no país, do quadrinista cearense Luiz Sá, quase teve o mesmo destino, mas uma cópia foi encontrada e recuperada em laboratório.

“Luz, anima, ação!” presta homenagem ao pioneirismo de Marins, com um desenho coletivo inspirado em “O kaiser”. A partir de uma imagem do personagem-título impressa em um jornal da época, oito artistas contribuem com técnicas como light painting, massa de modelar, pixelation e stop motion.

— Ninguém sabe o que aconteceu com a cópia de “O kaiser”, entre tantos outros trabalhos perdidos, porque a animação brasileira nunca foi estudada a sério — explica Calvet, de 32 anos. — O primeiro pesquisador que se dedicou à arte foi Antônio Moreno, que lançou um livro sobre o assunto nos anos 1970. Sem ele, não teria conseguido contar as histórias dos pioneiros da animação, de como essas pessoas obstinadas conseguiram realizar algo, sem incentivo de governo ou empresas. Eles foram bravos guerreiros.

Dos visionários aos estúdios

“Luz, anima, ação!” é dividido em blocos temáticos. O filme lembra as iniciativas visionárias de animadores como Anélio Latini Filho, de “Sinfonia amazônica” (1951), primeiro longa-metragem animado feito no país, passando pela chamada geração 1980, quando despontaram talentos como Marcos Magalhães (autor de “Meow”, de 1982, premiado no Festival de Cannes) e pelos anos 2000, quando a atividade renasceu, impulsionada pelas tecnologias digitais.

Um capítulo aborda o boom da animação na propaganda de TV, nos anos 1960 e 1970, com personagens icônicos como o boneco de gelo da Frigideire, a barata do inseticida Rodox, a Gotinha da Esso, o elefante Jotalhão do extrato de tomate Cica e o homem azul dos cotonetes Johnson. Segundo Calvet, a publicidade da época influenciou muitos animadores em atividade hoje.

O documentário relembra ainda casos como o de Luiz Sá, que tentou exibir o curta “Virgulino apanha” (1938) para Walt Disney, quando ele visitou o Brasil em 1941, mas teve seu pedido recusado pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do governo Vargas, sob a justificativa de que o desenho era muito rudimentar. Deprimido, Sá vendeu os rolos originais para uma loja de projetores, que os retalhou e ofereceu os pedaços como brinde aos clientes.

Em 1975, um desses trechos, já bastante deteriorado, foi encontrado pelo animador e colecionador de projetores José Luiz Parrot. Durante as pesquisas para o documentário, a produção bancou a restauração do segmento, herdado pelo filho de Parrot, Luiz Mário — um dos muitos entrevistados para o filme, além de Maurício de Souza, o criador da turma da Mônica, e Carlos Saldanha, coautor da franquia americana “A Era do Gelo”, e um dos bem-sucedidos talentos brasileiros no exterior.

— Até os anos 1970, a animação brasileira viveu de iniciativas individuais, como as de Rui Perotti e Luiz Sá — diz Calvet. — A partir da década seguinte, já há ações conjuntas, a formação de estúdios. O Maurcío investiu nos personagens da turma da Mônica, originária dos quadrinhos, e o Walbercy Ribas, que vinha dos comerciais da TV, começou a desenvolver seu primeiro longa de animação.

Então veio o governo Sarney, as canetas da gestão Collor, e a atividade quase acabou. Passadas quase duas décadas, hoje vemos séries de animação vendidas para TVs do mundo inteiro: “Peixonauta”, da TV PinGuim, por exemplo, já foi vista em mais de 67 países, inclusive nos Estados Unidos. É em função dessa mudança que “Luz, anima, ação!” termina em tom otimista. Calvet fala até em nova era do gênero no país:

— Em junho, “Uma história de amor e fúria”, do Luiz Bolognesi, ganhou o Festival de Annecy, na França, a mais importante mostra de animação do planeta. Não ganhávamos um prêmio importante assim desde “Meow”, no início dos anos 1980. O mundo está de olho na animação brasileira. Caminhamos para uma era de ouro da atividade.


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