Intruso entre os peregrinos que fizeram do Rio de Janeiro a Cidade da Fé, o cineasta Eduardo Nunes, temente aos credos de Andrei Tarkovsky, flanou pela geografia carioca nos dias da Jornada da Juventude registrando ausências, vazios, ruídos existenciais. Elogiadíssimo pelo "The New York Times" com o longa-metragem "Sudoeste" (2011), o diretor, famoso por suas experiências sensoriais com as narrativas em preto e branco, saiu às ruas com uma encomenda da sessão LOGO +. Foi convocado com uma provocação: acompanhar a multidão de religiosos de diferentes nacionalidades e buscar, a partir deles, uma manifestação inaudita de sensações capazes de extrapolar a adoração. Daí nasceu "Silêncio e som", curta dirigido e fotografado por Nunes, montado por Jarbas Cabral. O diretor tem uma definição particular para o exercício:
- É um registro contemplativo de uma tarde chuvosa no Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude. O silêncio, os ruídos, os cantos, os gritos, o imutável e o movimento. Se Deus existe, onde está? - questiona Nunes.
O recorte adotado em "Silêncio e som" nasceu de uma caminhada.
- A contemplação no cinema surge como um recurso já nos primeiros filmes: o simples deixar acontecer diante da câmera. Tudo vem a partir de um registro "neutro", como manipular as imagens e sons para simplesmente transmitir uma sensação muito específica, independente de uma narrativa clássica - filosofa o diretor. - O cinema ainda existe apenas como som e imagem, sem a função narrativa?