RIO - Quem peregrinou neste sábado ao Teatro Municipal, que estava com todas as suas vias de acesso interditadas (Av. Rio Branco, Av. Chile e até a Rua do Passeio), foi recompensado pela bela voz do barítono Paulo Szot e pelo acompanhamento atencioso da Orquestra Sinfônica Brasileira, regida pelo maestro Roberto Minczuk. A curiosidade era enorme, pois foi depois da última apresentação do cantor paulistano no Rio, em 2006, que ele estourou internacionalmente, ganhando um prêmio Tony por sua atuação no musical da Broadway “South Pacific” e estrelando óperas no Metropolitan de Nova York.
Como a chegada ao teatro estava complicada, trocou-se a ordem do programa. Assim, a primeira parte teve a sinfonia em dó maior de Richard Wagner, obra de juventude do compositor, sem grandes atrativos. Foi anunciada como sua estreia nacional. A segunda parte começou com Szot cantando a ária “O du, mein holder Abendstern”, de Wagner, com o lirismo e a melancolia apropriados ao personagem Wolfram. Sua voz aveludada se prestou bem a esse papel.
Em seguida, a orquestra tocou o movimento “Blumine”, composto por Mahler para a sua 1ª sinfonia e descartado. Foi anunciado como sua estreia carioca. Pode ter sido a estreia por uma orquestra carioca, mas tinha sido tocado não faz muito tempo, em 2010, pela Filarmônica de Munique ali mesmo, no Teatro Municipal. Minczuk e seus músicos deram uma bela performance. A coesão é incrível para uma orquestra refeita há pouco tempo. Tem músicos jovens que se beneficiarão de mais experiência e confiança, a julgar por passagens vacilantes, como a do trompete solo de “Blumine”. Potencial não parece faltar.
Com o tempo, a OSB também deverá depurar seu som, elevando o nível de sutileza, podendo mudar bruscamente de volume sem alterar sua textura, algo que distingue as melhores. Em Mahler, texturas, coloridos e equilíbrio sonoro são importantes. O seu ciclo de canções “Rückert Lieder”, que trouxe Szot de volta ao palco, foi bom. Começou com “Liebst du um Schönheit”, que poderia ter mais sutileza e poesia. Mas a sensibilidade de Minczuk e da orquestra se fez sentir nas duas melhores canções, “Ich bin der Welt abhanden gekommen” e “Um Mitternacht”. O naipe de madeiras brilhou, com destaque para o corne inglês. Szot, com seu lindo timbre, soou expressivo, ainda que um pouquinho contido. No bis, soltou-se mais em duas árias da ópera “Don Giovanni” e foi ovacionado. Que ele volte ao Rio antes do Papa.