RIO - Quem assiste ao reality “Quem dá mais?”, cuja quarta temporada está no ar no A&E às quintas, às 22h, deve achar que Darrell Sheets tem uma espécie de sexto sentido. Mas o segredo, ele garante, é a experiência. Há 36 anos no ramo dos leilões de depósitos, o bem-humorado americano não é nada modesto: diz que costuma fazer bons negócios em 9 de 10 depósitos que arremata. Depois de tanto tempo apostando no escuro, não perde o gosto pela adrenalina.
— É o único emprego que encontrei que é como se fosse Natal. Quem não quer trazer uma enorme caixa para casa e abrir para ver o que vai encontrar? — questiona, numa teleconferência com jornalistas da América Latina.
Na atração, ele e os outros participantes dão lances para comprar depósitos de armazenamento perdidos por seus donos, seja por inadimplência, morte ou qualquer outro motivo. Sem ter a menor ideia do que os espera lá dentro.
Darrell começou a circular por esse mundo com 19 anos. Um amigo o levou para um leilão e, já no primeiro lance, ele fez um bom negócio. Ao longo das temporadas do “Quem dá mais?” já o vimos encontrar uma coleção de obras de arte valendo US$ 300 mil — a maior da história do reality —, além de bizarrices como motores de foguetes espaciais e até um corpo. Com o dinheiro que conseguiu comprando e vendendo, ele sustenta muito bem a família. E ainda sobra para investir numa coleção de carros sofisticados e em outra de arte: Darrell e a esposa tiveram que comprar um galpão para acomodar as mais de 5 mil obras que acumularam ao longo dos anos.
— Se não quisesse, eu não precisaria continuar trabalhando, mas não consigo parar. Mesmo quando não há câmeras. É um vício. E eu ainda me divirto muito, até hoje — admite.
Mas claro que nem tudo são flores. Darrell lembra que já chegou a perder US$ 4 mil de uma vez ao comprar um depósito cheio de caixas vazias (“Quem acha que pode ganhar tudo não deve estar nesse negócio”, avisa). A competitividade entre os compradores também pode acabar sendo um problema. Os espectadores muitas vezes nem imaginam, mas os bastidores de realities como o “Quem dá mais?” podem esquentar bastante.
— Vou contar uma coisa que eu nunca disse antes: nas três primeiras temporadas, quando gravávamos com aquele cara que falava “Yuup” (Dave Hester, que foi demitido do reality e chegou a tentar processar a emissora que exibe o programa), tínhamos que ter três seguranças armados o tempo inteiro no set. Aquele cara era um babaca, então havia muitas brigas — revela.
Com a saída de Dave, o clima ficou mais light, mas a competitividade segue, de forma saudável, ele comenta. Com um tantinho de vaidade — mas sem perder a simpatia —, diz que vários dos outros participantes muitas vezes querem competir pessoalmente com ele.
— Eles fazem isso porque sabem que, quando eu vou arrematar um depósito, é porque lá tem algo bom. Confesso que eu me divirto com isso. Às vezes finjo que encontrei algo bom só para eles lutarem para comprar — conta, rindo.
E o sucesso do reality, responsável pelas melhores audiências do A&E nos EUA e no Brasil, acabou criando um efeito colateral também no cotidiano de quem aposta:
— Os depósitos mudaram muito nos últimos anos. As pessoas “maquiam” para que eles pareçam abandonados e destruídos. E escondem as coisas boas lá no fundo, nunca na porta. É preciso realmente aprender a ler os compartimentos.
O “Quem dá mais?” faz parte de um grupo de realities bem-sucedidos que atraem a atenção do telespectador com seus leilões, trocas, escambos e antiguidades, entre eles o “Trato feito” e “Caçadores de relíquias”. Na opinião de Darrell, o motivo para tanto interesse é bastante poético.
— Acho que são atrações que oferecem esperança. Todo mundo que sempre quis encontrar um tesouro, vê esses programas e acredita que realmente pode fazer isso —defende.