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Tão jovens, tão lindos, tão obcecados por famosos

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RIO - Modelo, instrutora de pilates e de pole dance, Alexis Neiers sempre gostou de acompanhar em revistas e sites a vida das celebridades. A mãe foi coelhinha da “Playboy”, e o pai, diretor de fotografia de “Friends”. A amiga Rachel Lee era fã de reality shows e bastante popular por causa das roupas de grife de luxo que usava. Na adolescência, as duas deram trabalho em casa e fora dela. Tiveram problemas na escola, bebiam e usavam drogas. Em 2008 e 2009, o principal passatempo de Alexis, Rachel e amigos era invadir a casa de famosos e sair de lá carregados de joias, sapatos, relógios e obras de arte. O grupo, conhecido como Bling Ring, foi preso e solto, e sua história inspirou um livro — “Bling Ring: A gangue de Hollywood” (Intrínseca) —, escrito pela jornalista Nancy Jo Sales, e um filme dirigido por Sofia Coppola, com estreia prevista no Brasil em 2 de agosto.

A estratégia do grupo era simples. Com a ajuda do Google, descobriam a localização da mansão e também quando o dono dela estaria fora da cidade. Uma notícia dizendo que Orlando Bloom viajaria para Nova York com a então namorada, a modelo australiana Miranda Kerr, foi a deixa para que o grupo combinasse mais uma invasão. A casa foi revirada em julho de 2009, e o rombo do ator de “Piratas do Caribe” e “O Senhor dos Anéis” foi de cerca de US$ 500 mil, o que incluía uma coleção de relógios Rolex e muitos objetos da modelo e ícone fashion entre as meninas.

— Eles fizeram algo ultrajante e errado, mas são um produto de quase três décadas de cultura americana em que há uma celebração sem precedentes da riqueza e do luxo, bem como o crescimento da indústria da celebridade. Eles cresceram assistindo a programas de TV e filmes e ouvindo músicas que glorificam o materialismo — afirmou, em entrevista por e-mail, Nancy, que conheceu alguns integrantes do grupo.

A autora conta, com detalhes, o que pensavam e como agiam os jovens. Gostavam de desfilar pelas ruas roupas e acessórios de famosos, como das atrizes Lindsay Lohan, Megan Fox, Audrina Patridge e Rachel Bilson. Também costumavam postar fotos no Facebook com as novas aquisições. Foram dez meses e roubos que somavam o equivalente a US$ 3 milhões.

Na intimidade do ídolo

Segundo relatos dos envolvidos, adentrar as mansões estava longe de ser tarefa difícil. A chave de Paris Hilton — acredite — ficava debaixo do tapete à frente da porta principal, e Audrina Patridge tinha esquecido uma porta lateral aberta no dia do assalto. Mesmo sabendo dos riscos e da grande probabilidade de estarem sendo filmados por câmeras escondidas, nem sempre eles cobriam o rosto. O tempo da limpa variava e dependia da empolgação de um ou outro integrante, que muitas vezes não escondia o deslumbramento ao entrar na intimidade de um ídolo.

A quadrilha acabou sendo descoberta, e os sete tiveram que prestar contas à Justiça. Vídeos de segurança e as imagens compartilhadas nas redes sociais, claro, acabaram sendo usados contra eles.

— Acho que o mais fascinante é ver como o crime abrangia tantos temas que se refletem em nossa cultura moderna: a obsessão com as celebridades, a natureza mutável da fama na era das redes sociais e reality shows e a hiperssexualização de mulheres e meninas — avalia Nancy, que foi contatada por Sofia Coppola para vender os direitos de sua primeira reportagem sobre a gangue, publicada em 2010 na “Vanity Fair”.

Sofia estava lançando o filme “Um lugar qualquer”, mas ficou fascinada com a história relatada pela jornalista. Antes de as filmagens de “Bling Ring” começarem, ela procurou Paris Hilton e pediu para conhecer seu closet, que acabou sendo usado de set. As personagens tiveram seus nomes trocados, e o filme já causa polêmica antes mesmo da estreia. Rachel Bilson, uma das vítimas, acusou Sofia de romantizar os crimes. Já a atriz Mischa Barton não gostou nada da menção à sua prisão depois de dirigir bêbada.

Sem grandes nomes no elenco, o destaque fica por conta de Emma Watson, que deu o que falar depois da divulgação de uma cena em que faz caras, bocas e pole dance. A estrela de “Harry Potter” interpreta Alexis (no filme, Nicki), que participava de um reality quando foi condenada a seis meses de prisão pelo furto na casa de Orlando Bloom.

“A obsessão com a celebridade — o que muitos de nós sofrem — é o que faz o Bling Ring tão relevante quase cinco anos depois do primeiro assalto. Eu acredito que a grande maioria da nossa sociedade é tão doente quanto nós adolescentes éramos”, escreveu em seu blog Alexis, 22 anos, ex-detenta, ex-viciada em heroína e agora mãe e casada com um empresário que conheceu no Alcoólicos Anônimos.


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