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BMW Jazz Festival reúne bambas do gênero a partir deste sábado no Vivo Rio

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RIO - Ao fim da primeira série de baladas executada na noite da última terça-feira no Town Hall, em Nova York, como parte do Blue Note Festival, Joshua Redman deixa o saxofone de lado e se dirige ao microfone para apresentar os músicos do quarteto que leva seu nome: o baixista Larry Grenadier, o baterista Brian Blade e, por último, o pianista Brad Mehldau.

— O homem sem o qual essa música não seria possível — diz, fazendo um gesto de agradecimento.

Mehldau — que não por acaso abriu o show em duo com Redman — fez parte do primeiro quarteto do saxofonista, há 20 anos, e produziu seu último disco, “Walking shadows”, lançado em maio (e tocado ao vivo pela primeira vez esta semana, com o auxílio luxuoso de 18 cordas da orquestra The Knights). Parceiros da vida toda, Mehldau e Redman estão no Brasil para a terceira edição do BMW Jazz Festival, que chega ao Vivo Rio hoje, depois de começar por São Paulo, na quinta-feira.

Mas eles trazem projetos diferentes: Redman se apresenta logo mais com o quarteto James Farm, antes de Esperanza Spalding Radio Music Society; e Mehldau toca amanhã com seu trio (que conta com o mesmo baixista do Joshua Redman Quartet), seguido por Joe Lovano & Dave Douglas Quintet. A atração do encerramento do evento, segunda-feira, é a Pat Metheny Unity Band, classificada pelo próprio guitarrista, em entrevista mês passado ao GLOBO como “uma das formações mais fortes” que já teve.

A seguir, Redman e Mehldau falam de suas bandas, dos vários projetos em que estão envolvidos e de seus interesses musicais, que vão muito além do jazz, passando por rock (no caso do primeiro), metal (no caso do segundo) e Chico Buarque (no caso dos dois).

Brad Mehldau revela fascínio pelo heavy metal e conta que irá se aventurar nos sintetizadores

Aos 42 anos, o pianista americano Brad Mehldau é um admirável caso de como as aparências enganam. Há cerca de 20 anos, iniciando carreira e tendo passado pela prestigiada escola de Berklee, ele poderia ser confundido com um desses jovens tradicionalistas do jazz. Na contramão do pop, porém, montou um trio acústico — piano, baixo e bateria — e foi à luta. É com essa formação, aliás, que ele toca amanhã no Rio. Mas a música que faz está bem distante das categorizações e dos purismos do estilo — é o jazz como meio, não como fim. Exemplo: em seu mais recente disco, “Where do you start” (2012), ele exercita seu estilo ao mesmo tempo refinado e indomável, em composições de Alice in Chains (“Got me wrong”), Elvis Costello (“Baby plays around”), Nick Drake (“Time has told me”), Chico Buarque (“Samba e amor”) e Toninho Horta (“Aquelas coisas todas”).

— Há canções que adoro e que até tento tocar, e há outras que amo, mas sequer tento. É bom ser apenas um apreciador da música das outras pessoas. Acho importante que os músicos permaneçam fãs de música — conta, por e-mail, o pianista, que recentemente revelou, em entrevista, sua admiração pela banda canadense de metalcore Cancer Bats. — Eles são ótimos. Mas ultimamente tenho ouvido bastante uma banda sueca (de metal vanguardista), o Meshuggah. Só não sei se conseguiria tocar suas músicas...

Brad Mehldau fez sua estreia no Brasil em 1991, acompanhando o saxofonista Christopher Hollyday.

— Tive ótimas experiências ao me apresentar aí. Recordo-me bem da primeira vez, eu era muito jovem e tudo no Rio me encantava! — diz, lembrando-se de ter tocado as canções de Toninho e Chico da última vez em que esteve aqui, em 2010. — Adoro as harmonias do Toninho Horta, elas vêm da guitarra de uma forma profunda, que ressoa em mim. E a música do Chico Buarque é romântica, às vezes com um sentimento trágico, de mortalidade, mas de quem vive intensamente.

Além dos discos e shows com seu trio (o baixista Larry Grenadier e o baterista Jeff Ballard), Mehldau desenvolve vários outros trabalhos. Num dos próximos, tocará um novo instrumento:

— Vou para os sintetizadores num projeto com o baterista Mark Giuliana. Para mim, eles são uma extensão do piano, que é um instrumento cujo fascínio não tem fim.

Atuante em diversas formações, Joshua Redman colhe influências que vão de Beatles a Radiohead

“O jazz é muito promíscuo”, diz Joshua Redman num sofá da gravadora Nonesuch, em Manhattan, na véspera do lançamento do disco “Walking shadows”.

Além de ser parceiro constante de Brad Mehldau, o saxofonista californiano de 44 anos, que toca hoje no Rio com o quarteto acústico James Farm, já trabalhou com pelo menos outras duas atrações do BMW Jazz Festival: Pat Metheny e Joe Lovano participaram de álbuns seus.

— O jazz tem uma cena fluida — explica Redman, que, fora o quarteto ao qual dá nome e o James Farm, atua em diversos trios (entre eles o Double Trio, com dois baixistas e dois bateristas) e excursiona com bandas como a norueguesa Trondheim Jazz Orchestra.

Os shows que o James Farm fará no Brasil serão os únicos do ano. A banda — formada em 2009 por Redman, o pianista Aaron Parks, o contrabaixista Matt Penman e o baterista Eric Harland — tem um disco homônimo, de 2011, que será a base da apresentação, acrescida de novidades compostas na última turnê.

— Adoro brincar com esses caras — avisa, ressaltando que no James Farm não há um líder. — Temos personalidades musicais muito fortes, como instrumentistas, compositores e na forma de ver a música, então é realmente uma banda de quatro chefes.

Outra característica é o interesse em influências além do jazz — da música clássica à eletrônica, passando pelo rock.

— Muitos dos nossos grooves são frescos e únicos na forma como apresentamos as composições — adianta Redman, enumerando suas fontes particulares: de Beatles a Otis Redding; de Stevie Wonder a LL Cool J; de Nirvana a Radiohead.

Ele tocou no Free Jazz Festival de 1999 e na primeira edição do BMW, em 2011. No ano passado, fez cinco shows no Brasil com a Orkestra Rumpilezz, do maestro baiano Letieres Leite.

— O que me pegou foi a complexidade dos ritmos, são tantas camadas... Mas é música complexa que não soa complexa. Como a dos melhores jazzistas — elogia, ressaltando que seu conhecimento de música brasileira ainda é “bem superficial”.

No dia seguinte, porém, Redman apresentaria com seu quarteto e a orquestra The Knights uma versão impecável de “Trocando em miúdos”, de Chico Buarque.


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